Extraído do Curso de Iniciação Teológica.
Entre a morte e o Juízo Final, as almas dos justos gozam já de Deus, as dos condenados sofrem já o inferno, e outras purificam-se no Purgatório.
Por "purgatório" entende-se o estado (não um local) em que as almas dos fiéis que morrem no amor de Deus, mas ainda portadoras de inclinações desregradas e resquícios do pecado, se libertam destas escórias mediante a purificação do seu amor.
Em 1Cor 3,10-16 São Paulo trata dos pregadores do Evangelho que constroem com zelo sobre Cristo e não sobre fundamento falso. Uns, porém, constroem com zelo (ouro e prata... ); outros, com tibieza (feno, palha... ). O dia do juízo revelará o empenho de cada qual dos operários. Enquanto os primeiros nada terão que temer, os outros sofrerão detrimento, isto é, padecerão dores; todavia não deixarão de se salvar; salvar-se-ão depois de provar a angústia devida às suas obras imperfeitas - o que insinua o tipo de salvação que ocorre mediante o purgatório (o fogo, porém, neste contexto não é senão símbolo do juízo de Deus).
Há quem cite Mt 5,25s; Jesus dá a entender que, após a caminhada da vida presente, pode haver um cárcere (metáfora), donde o homem réu sai depois de ter expiado por completo.
Vê-se assim como a Escritura fornece os dados básicos da doutrina do purgatório.
2. O magistério da Igreja colheu e exprimiu a fé do povo de Deus em documentos que equivalem a definições doutrinárias. Seja citado o Concílio de Lião II (1274):
Visto que a doutrina do purgatório era muito associada a imagens fantásticas, o Concilio de Trento (1545-1563) prescreveu:
"Sejam excluídas das pregações
populares... as questões dificeis e as que não edificam nem aumentam a
piedade. Igualmente não seja permitido divulgar nem discorrer sobre
assuntos duvidosos ou que trazem a aparência de falso. Sejam ainda
proibidas como escandalosas e prejudiciais aquelas coisas que têm em
vista provocar a curiosidade ou que têm o sabor de supertição ou torpe
lucro" (DS 1820 [983]).
O Concílio do Vaticano II renovou a profissão de fé dos anteriores, como se lê em Lumen Gentium nº 49-51. De modo especial é aí afirmado que a morte não interrompe a comunhão eclesial existente entre os fiéis na terra, os justos na glória e os que ainda purificam na vida póstuma (cf .nº 51).
Por conseguinte, a doutrina do purgatório constitui um artigo de fé, que a Igreja já concientemente reafirma em nossos dias.
1) O amor a Deus, num cristão, pode coexistir com tendências desregradas e pecados leves. O egoísmo, a vaidade, a covardia... acham-se tão intimamente arraigados no interior do homem que chegam por vezes a acompanhar as suas mais sérias tentativas de se elevar a Deus.
2) Mais: todo pecado (principalmente quando grave, mas também a falta leve) " deixa na alma um resquício de si ou uma inclinação má (metaforicamente: deixa cicatriz, deixa um pouco de ferrugem na alma, dificultando-lhe a prática do bem). Quando após o pecado a pessoa pede perdão a Deus, o Senhor perdoa; todavia o amor do pecador arrependido não pode ser suficientemente intenso para extinguir todo resquício de concupicência existente na alma. Em consequência, o pecador recebe o perdão de suas culpas, mas ainda deve restaurar a ordem violada pelo pecado, eliminando os resquícios do mesmo; é o que se chama "prestar satisfação". A satisfação não é um castigo vingativo ou uma pena arbitrária, mas uma exigência do amor da alma a Deus, amor que, sendo fraco, pede ser corroborado e purificado.
Com outras palavras: o perdão que Deus concede ao pecador, extingue a culpa, mas não extingue sempre a desordem provocada ou alimentada pela culpa. Resta, pois, ao homem o dever de prestar penitência ou satisfação.
Ora a expiação ou a eliminação dos resquícios do pecado pode ocorrer na vida presente por efeito da virtude da penitência do cristão. Caso isto não se dê, resta a oportunidade de o fazer na vida póstuma ou no purgatório, pois ninguém pode ver Deus face-a-face se traz a mínima sombra de pecado.
No purgatório não há fogo, nem se deve imaginar um "inferno em miniatura". Trata-se de um estado no qual a criatura se arrepende por ter condescendido com a moleza e a indefinição; a alma toma consciência de que foi cercada pelo amor de Deus no decorrer de toda a sua vida e o ignorou ou esbanjou (amarga consciência!). Esta verificação não pode deixar de ser dolorosa, de mais a mais que a criatura percebe que, por causa da sua indefinição na terra, lhe é postergada a entrada no gozo definitivo de Deus; é-Ihe duro verificar que faltou ao encontro marcado com Deus, justamente após a morte, quando os fiéis mais fome e sede têm de Deus.
Aprofundando estas idéias, podemos dizer: é devagar que o homem se torna, segundo todas as dimensões do seu ser, o que ele já é no "núcleo" da sua personalidade. Uma decisão generosamente abraçada pela vontade não costuma penetrar e mover instantaneamente todas as camadas da personalidade; ela muitas vezes encontra no fundo da consciência do indivíduo uma resistência mais ou menos tensa, que provém de hábitos do passado do sujeito. É essa resistência que deve ser vencida (de preferência, na vida terrestre; senão, no purgatório póstumo), a fim de que o amor consiga penetrar toda a respectiva personalidade.
Paradoxalmente, o purgatório é também cheio de alegria. Esta jorra da consciência que a pessoa tem, de que ela pertence ao amor de Deus de modo irreversível". Tal alegria supera a de qualquer prazer da terra.
As almas no purgatório não podem acelerar o processo de sua purificação, pois são incapazes de merecer algo (o período de méritos é somente a vida presente). Contudo os cristãos na terra podem ser-Ihes úteis em virtude da comunhão que une os membros da Igreja entre si; os méritos de uns beneficiam os outros. Por conseguinte os fiéis na terra podem oferecer a Deus sufrágios (orações, a S. Missa, obras meritórias... ) em favor das almas do purgatório, afim de que o Senhor Ihes dê a graça de serem mais profundamente penetradas pelo amor de Deus, ... amor que nelas deve consumir as impurezas do pecado.
Não é possível avaliar a duração do purgatório, pois este não é regido pelo tempo cronológico, mas pelo evo. Evitemos falar de "almas abandonadas no purgatório". Mesmo que determinada pessoa não tenha quem a ajude por seus sufrágios, é certamente beneficiada pelos sufrágios gerais da Igreja. Todos os bens da comunhão dos santos circulam entre todos os membros desta.
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Curso de Iniciação Teológica: www.cursoscatolicos.com.br
Entre a morte e o Juízo Final, as almas dos justos gozam já de Deus, as dos condenados sofrem já o inferno, e outras purificam-se no Purgatório.
Por "purgatório" entende-se o estado (não um local) em que as almas dos fiéis que morrem no amor de Deus, mas ainda portadoras de inclinações desregradas e resquícios do pecado, se libertam destas escórias mediante a purificação do seu amor.
1. Fundamentos bíblicos e magistério
1. O texto mais significativo é o de 2Mc 12,39-46. Ler... Esta passagem apresenta soldados judeus que haviam morrido em defesa das suas tradições religiosas, mas portadores de pequenos ídolos (o que era incoerente). Haviam "morrido piedosamente" (diz o texto, v.45), mas ficavam-Ihes aderências do mal, das quais deviam ser purificados a fim de poderem conseguir "a bela recompensa". E Judas Macabeu (+160 a.C.) julgavam que, em vista dessa purificação, Ihes podiam ser úteis os sufrágios dos vivos.Em 1Cor 3,10-16 São Paulo trata dos pregadores do Evangelho que constroem com zelo sobre Cristo e não sobre fundamento falso. Uns, porém, constroem com zelo (ouro e prata... ); outros, com tibieza (feno, palha... ). O dia do juízo revelará o empenho de cada qual dos operários. Enquanto os primeiros nada terão que temer, os outros sofrerão detrimento, isto é, padecerão dores; todavia não deixarão de se salvar; salvar-se-ão depois de provar a angústia devida às suas obras imperfeitas - o que insinua o tipo de salvação que ocorre mediante o purgatório (o fogo, porém, neste contexto não é senão símbolo do juízo de Deus).
Há quem cite Mt 5,25s; Jesus dá a entender que, após a caminhada da vida presente, pode haver um cárcere (metáfora), donde o homem réu sai depois de ter expiado por completo.
Vê-se assim como a Escritura fornece os dados básicos da doutrina do purgatório.
2. O magistério da Igreja colheu e exprimiu a fé do povo de Deus em documentos que equivalem a definições doutrinárias. Seja citado o Concílio de Lião II (1274):
"Se (os cristãos que tenham pecado)
falecerem realmente possuídos de contrição e piedade, antes, porém, de
ter feito dignos frutos de penitência por suas obras más e por suas
omissões, suas almas depois da morte, são purificadas pelas penas
purgatórias... Para aliviar estas penas, são de proveito os sufrágios
dos fiéis vivos, a saber: o Sacrifício da Missa, as orações, esmolas e
outras obras de piedade que, conforme as instituições da Igreja, são
praticadas habitualmente pelos cristãos em favor de outros fiéis" (DS
856; cf. 1304 [693]).
Visto que a doutrina do purgatório era muito associada a imagens fantásticas, o Concilio de Trento (1545-1563) prescreveu:
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O Concílio do Vaticano II renovou a profissão de fé dos anteriores, como se lê em Lumen Gentium nº 49-51. De modo especial é aí afirmado que a morte não interrompe a comunhão eclesial existente entre os fiéis na terra, os justos na glória e os que ainda purificam na vida póstuma (cf .nº 51).
Por conseguinte, a doutrina do purgatório constitui um artigo de fé, que a Igreja já concientemente reafirma em nossos dias.
2. Linhas doutrinárias
É claro que o purgatório não está sujeito às dimensões do espaço e do tempo. Para entendê-Io, ponderemos o seguinte:1) O amor a Deus, num cristão, pode coexistir com tendências desregradas e pecados leves. O egoísmo, a vaidade, a covardia... acham-se tão intimamente arraigados no interior do homem que chegam por vezes a acompanhar as suas mais sérias tentativas de se elevar a Deus.
2) Mais: todo pecado (principalmente quando grave, mas também a falta leve) " deixa na alma um resquício de si ou uma inclinação má (metaforicamente: deixa cicatriz, deixa um pouco de ferrugem na alma, dificultando-lhe a prática do bem). Quando após o pecado a pessoa pede perdão a Deus, o Senhor perdoa; todavia o amor do pecador arrependido não pode ser suficientemente intenso para extinguir todo resquício de concupicência existente na alma. Em consequência, o pecador recebe o perdão de suas culpas, mas ainda deve restaurar a ordem violada pelo pecado, eliminando os resquícios do mesmo; é o que se chama "prestar satisfação". A satisfação não é um castigo vingativo ou uma pena arbitrária, mas uma exigência do amor da alma a Deus, amor que, sendo fraco, pede ser corroborado e purificado.
Com outras palavras: o perdão que Deus concede ao pecador, extingue a culpa, mas não extingue sempre a desordem provocada ou alimentada pela culpa. Resta, pois, ao homem o dever de prestar penitência ou satisfação.
Ora a expiação ou a eliminação dos resquícios do pecado pode ocorrer na vida presente por efeito da virtude da penitência do cristão. Caso isto não se dê, resta a oportunidade de o fazer na vida póstuma ou no purgatório, pois ninguém pode ver Deus face-a-face se traz a mínima sombra de pecado.
No purgatório não há fogo, nem se deve imaginar um "inferno em miniatura". Trata-se de um estado no qual a criatura se arrepende por ter condescendido com a moleza e a indefinição; a alma toma consciência de que foi cercada pelo amor de Deus no decorrer de toda a sua vida e o ignorou ou esbanjou (amarga consciência!). Esta verificação não pode deixar de ser dolorosa, de mais a mais que a criatura percebe que, por causa da sua indefinição na terra, lhe é postergada a entrada no gozo definitivo de Deus; é-Ihe duro verificar que faltou ao encontro marcado com Deus, justamente após a morte, quando os fiéis mais fome e sede têm de Deus.
Aprofundando estas idéias, podemos dizer: é devagar que o homem se torna, segundo todas as dimensões do seu ser, o que ele já é no "núcleo" da sua personalidade. Uma decisão generosamente abraçada pela vontade não costuma penetrar e mover instantaneamente todas as camadas da personalidade; ela muitas vezes encontra no fundo da consciência do indivíduo uma resistência mais ou menos tensa, que provém de hábitos do passado do sujeito. É essa resistência que deve ser vencida (de preferência, na vida terrestre; senão, no purgatório póstumo), a fim de que o amor consiga penetrar toda a respectiva personalidade.
Paradoxalmente, o purgatório é também cheio de alegria. Esta jorra da consciência que a pessoa tem, de que ela pertence ao amor de Deus de modo irreversível". Tal alegria supera a de qualquer prazer da terra.
As almas no purgatório não podem acelerar o processo de sua purificação, pois são incapazes de merecer algo (o período de méritos é somente a vida presente). Contudo os cristãos na terra podem ser-Ihes úteis em virtude da comunhão que une os membros da Igreja entre si; os méritos de uns beneficiam os outros. Por conseguinte os fiéis na terra podem oferecer a Deus sufrágios (orações, a S. Missa, obras meritórias... ) em favor das almas do purgatório, afim de que o Senhor Ihes dê a graça de serem mais profundamente penetradas pelo amor de Deus, ... amor que nelas deve consumir as impurezas do pecado.
Não é possível avaliar a duração do purgatório, pois este não é regido pelo tempo cronológico, mas pelo evo. Evitemos falar de "almas abandonadas no purgatório". Mesmo que determinada pessoa não tenha quem a ajude por seus sufrágios, é certamente beneficiada pelos sufrágios gerais da Igreja. Todos os bens da comunhão dos santos circulam entre todos os membros desta.
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