Apresentamos aqui os argumentos para a existência de Deus
utilizados pelo Dr. Willian Lane Craig, teólogo, filósofo analítico e
apologista protestante americano, conhecido por seu trabalho na Filosofia da
Religião. (www.reasonablefaith.org)
Dr. Craig participou de vários debates com ateus e céticos e
expõe, em geral, 6 argumentos a favor do teísmo. O presente resumo foi feito a
partir do debate “Deus existe? Willian Lane Craig X Austin Dacey”:
Ao final do texto, alguns outros links de importantes
debates.
Comentário crítico: Os argumentos do Dr. Craig e sua exposição são
claros, válidos e convincentes, baseados na filosofia em diálogo com a ciência,
principalmente a cosmologia. O sexto argumento, ele o declara, não é um
argumento, mas poderia ser se apresentasse como senso religioso inato no homem,
apoiado sobre dados sociológicos e antropológicos. Os argumentos filosóficos e
cosmológicos poderiam ser mais aprofundados com os dados da filosofia tomista e
as cinco vias. A origem protestante do Dr. Craig o impede de ir além nos
testemunhos históricos da Tradição católica e no relato científico de milagres,
importantes argumentos sempre atuais em favor da atuação direta de Deus na
história.
Perguntados se Deus existe, temos que pensar em duas outras
questões:
1.
Que boas razões existem para pensarmos que Deus
existe?
2.
Que boas razões existem para pensarmos que Deus NÃO
existe?
Dr. Craig expões seis linhas de evidências a favor da
existência de Deus, deixando as razões para que Deus não exista para seu
oponente no debate.
Razão 1: Deus é a
melhor explicação para o porquê existe alguma coisa, além do nada.
Qualquer coisa que existe possui uma explicação para sua
existência. E a explicação só pode ser de dois tipos: ou a causa está na sua
própria natureza ou a causa é externa.
É óbvio que o Universo existe e existem explicações para sua
existência, porque o Universo veio a existir no tempo, antes dele nada havia,
segundo os cosmólogos. Logo, a causa do Universo é externa.
Então, a causa do Universo deve ser maior que o Universo,
isto é, estar fora do espaço e do tempo, logo, imaterial e atemporal (pois não
existia matéria e tempo antes do Universo).
Ora, só existem dois tipos de objetos que são assim: objetos
abstratos, como números, ou uma mente inteligente.
Mas objetos abstratos não causam nada, portanto, se segue
que a explicação do universo é uma causa pessoal, externa e transcendente.
Razão 2: A existência
de Deus é inferida pela origem do universo.
Uma objeção pode surgir do primeiro argumento: o universo
poderia existir de forma necessária, pela sua própria natureza. Mas este segundo
argumento impede este escape: qualquer coisa que exista de forma necessária
deve existir eternamente.
As ciências evidenciam que o Universo teve uma origem no
tempo, no evento conhecido como Big Bang, do qual surgiu todo o espaço físico e
o tempo. Não havia espaço, tempo e matéria pré-existente.
Mas a pergunta necessária é por que o Universo veio a
existir. A menos que se queira crer que algo possa surgir do nada, temos por conclusão
que
(1)
Qualquer coisa que comece a existir tem uma
causa;
(2)
O Universo começou a existir;
(3)
Portanto, o Universo tem uma causa.
A causa do espaço e do tempo deve ser eterna, não espacial,
imaterial e de um poder insondável. Além disso, deve ser um ser pessoal.
Porque deve haver um ser pessoal nessas condições? O único
modo da causa ser eterna e o efeito ter início no tempo é se a causa for um agente
pessoal, que livremente escolheu criar um efeito no tempo, sem nenhuma condição
predeterminada.
Razão 3: O ajuste
fino do universo aponta para um projetista inteligente.
As leis da natureza apresentam algumas constâncias, como a
constante gravitacional. Estas não são determinadas pela natureza, mas foram
elas que deram possibilidade de existência para o universo.
Ainda, existem certas quantidades arbitrárias colocadas como
condições iniciais sobre as quais as leis da natureza operam, por exemplo, a
quantidade de entropia ou o equilíbrio entre matéria e antimatéria.
Todas essas constantes e quantidades se encaixam
extraordinariamente em uma faixa muito estreita de valores infinitesimais que
permitem a existência de vida. Se esses valores e quantidades fossem
infinitesimamente diferentes, nada existiria.
Existe somente três possibilidades de explicar este ajuste
fino do universo: necessidade física,
acaso ou design (projeto).
Necessidade física não pode ser, pois vimos que os valores
independem e são condições necessárias para as leis da natureza.
O Acaso, é matematicamente impossível. A probabilidade de
que todas estas constantes e quantidade se encaixem é absurdamente pequena, e
os acertos do acaso teriam que se repetir sequencialmente um número absurdo de
vezes.
Portanto, o ajuste fino implica a existência de um
Projetista inteligente.
Razão 4: É plausível
que os valores morais objetivos sejam fundamentados em Deus.
Se Deus não existe, tampouco valores objetivos (válidos e
obrigatórios por si, independente de pessoa ou aceitação).
Um certo evolucionismo moderno afirma que os valores morais
são fruto de evolução tanto quanto órgãos e membros biológicos, portanto, uma
moral objetiva é ilusória. Nietzsche, que proclamou a morte de Deus, entendeu
que sem Deus não há sentido e valor objetivo para a vida.
A questão não é que devamos crer em Deus para reconhecer e
viver valores morais. A questão é que na ausência de Deus como fonte da lei
moral objetiva, não podemos reconhecer nenhuma moral, pois que seria fruto de
evolução, portanto, mutável, não objetiva. Na visão ateísta, não há nada de
absolutamente errado em estuprar alguém ou infringir qualquer sofrimento a um
inocente. São meras convenções sociais evolucionárias.
Assim, (1) se Deus não existe, valores morais objetivos não
existem. (2)E, mesmo que no fundo, todos sabem que valores objetivos existem.
(3) Logo, Deus existe.
Razão 5: Os fatos
históricos relacionados à vida, morte e ressurreição de Jesus.
Críticos do Novo Testamento chegaram a algum consenso de que
o Jesus histórico veio à cena com um senso de autoridade divina. Ele levou uma
vida austera de pregação e atos miraculosos.
Mas a confirmação suprema de suas afirmações foi sua
ressurreição de dentre os mortos. Se Jesus ressuscitou, parece que temos um
milagre divino em nossas mãos e, assim, uma evidência para a existência de
Deus.
Existem três fatos históricos estabelecidos, reconhecidos
pelos historiadores, que são evidências para
a ressurreição de Jesus: (1) a
tumba encontrada vazia no Domingo após a crucifixão; (2) a experiência de
inúmeras aparições do ressuscitado; (3) os discípulos acreditaram na
ressurreição num ambiente totalmente contrário a isso.
Tentativas de rejeitar esses fatos (se os discípulos
roubassem o corpo; ou que Jesus não teria morrido de fato) são amplamente recusadas
pelos críticos.
Portanto, (1) existem três fatos históricos confirmados a
favor da ressurreição, (2) a hipótese “Deus ressuscitou Jesus de dentre os
mortos” é a melhor explicação para estes fatos, (3) isto implicaria a
existência de Deus, (4) portanto, Deus existe.
Razão 6: A
experiência pessoal de Deus.
Este não é verdadeiramente um argumento, mas antes uma
afirmação da sua existência simplesmente pela experiência pessoal imediata e
evidente que dá sentido a vida.
Portanto, para acreditar que o ateísmo está correto, então o
opositor terá primeiro que derrubar as seis razões apresentadas e em seu lugar
apresentar razões porque o ateísmo é verdadeiro. A não ser que isto aconteça,
nós podemos concluir que o teísmo é a cosmovisão mais plausível.
Respostas a algumas
objeções:
Em geral se observa que os argumentos do ateísmo estão
baseados na dúvida se Deus preenche ou não nossas expectativas. É uma
pressuposição perigosa pensar que se nossas expectativas sobre Deus não forem
satisfeitas, Deus não existe. O mais provável é que as expectativas estejam
equivocadas.
Objeção 1: O sumiço
de Deus
Não há razão para esperar mais evidências além das que Ele
já deixou. Por que esperar mais evidências que um universo contingente, surgido
do nada, o ajuste fino para a existência de vida inteligente, o conjunto de
valores transcendentes, a ressurreição e as afirmações de Jesus, e a
experiência imediata do próprio Deus?
O objetivo principal de Deus é atrair as pessoas para uma
relação livre e amorosa com Ele, não apenas convencê-los de que Ele existe. Uma
manifestação mais direta poderia ter o efeito contrária: forçar a relação não
dá espaço para a liberdade e o amor.
Objeção 2: O sucesso
das ciências naturais
Primeiro, é o teísmo que garante o sucesso das ciências
naturais. O mundo é racional e opera segundo leis claras e observáveis, como
vimos no argumento do design.
Segundo, Deus pode intervir periodicamente no processo
natural que ele mesmo criou. Por exemplo, a ressurreição de Jesus. Toda a
história de Israel foi pontuada com a autorrevelação de Deus na história.
Objeção 3: O dualismo
mente-corpo ensinado pelo teísmo.
Correlações entre eventos cerebrais e mentais não provam que
não existe um “eu”, alma ou mente imaterial que seja correlacionada com o
cérebro. O materialismo reducionista diz que eu sou o mesmo que meu cérebro ou
sistema nervoso. Porém, as propriedades mentais não são do mesmo tipo que
propriedades físicas: “estados de espírito”, percepção moral e identidade
pessoal, intenções, sabedoria, liberdade. Não saber como um agente imaterial interage
com o material (o cérebro e o corpo) não é razão para negar a realidade da
alma, muito menos que Deus existe.
Objeção 4: A evolução
extravagante e ineficiente é incompatível com a existência de um Deus inteligente.
Em primeiro lugar, eficiência é importante apenas para uma
pessoa que tenha tempo e recursos limitados. Dizer que a via que Ele escolheu é
ineficiente é apenas afirmar que não correspondeu a nossas expectativas.
Segundo, o argumento supõe que a teoria macro-evolucionária
é verdadeira, mas isso está longe de ser provado. Somente no exemplo do homo
sapiens, existem pelo menos 10 passos tão improváveis que, antes que eles
possam ter acontecido simplesmente pelo acaso, o sol e a Terra deixariam de
existir.
Portanto, se a evolução aconteceu, isto seria literalmente
um milagre, e portanto evidência para a existência de Deus.
Objeção 5: O
sofrimento dos inocentes no mundo.
Deve-se distinguir “problema emocional do sofrimento” e “problema
intelectual do sofrimento”. Dor e sofrimento são uma objeção emocional para reconhecer
a existência de Deus, mas não intelectual.
Primeiro, não está claro que o sofrimento seja sem sentido.
Apenas não estamos em condições de fazer esse tipo de julgamento. Ao sermos
limitados por tempo e espaço, nós não temos condições de conhecer o fim da
história e as razões dos acontecimentos. Isso não passa de ressentimento por
não saber essa e tantas outras coisas.
Segundo, é logicamente impossível Deus nos dizer, de modo
compreensível, a cada um, a razão de tudo. Ele nos diz de uma forma mais geral,
de modo que podemos confiar nele e esperar o cumprimento de suas promessas para
além desta vida.
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