Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, o Primaz do Brasil, afirmou que as propostas da Reforma Política,
encabeçada pela CNBB, não tiveram a participação de todos os
bispos. "Preferiria uma proposta nossa e, quem concordasse com elas,
participasse de nossa campanha", disse.
Acompanhe a entrevista abaixo:
Dom Murilo: A Constituição de nosso país reconhece ser dever do Estado cuidar da saúde, da educação, da escola etc. Nesse campo, atualmente a Igreja tem um papel supletivo - isto é, deve atuar onde não há a presença do Estado ou onde tal presença não é suficiente. No passado, quando a organização social era muito limitada, a Igreja sentia ser seu dever abrir hospitais, creches, escolas etc. Hoje só tem sentido manter essas obras ou fundá-las se, com seus valores, a Igreja quiser "fazer a diferença" - isto é, apresentar uma maneira própria de curar, educar, formar etc. Essa "maneira própria" são as motivações evangélicas isto é, o desejo de mostrar como vemos o doente, o jovem a ser educado, o idoso abandonado, a partir do que nos ensinou Jesus. Se for para ter, por exemplo, um escola "como as outras", sem os valores do Evangelho, não valeria a pena tanto esforço, mesmo que se tratasse de uma escola de boa qualidade. Afinal, como bem insiste o Papa Francisco, a Igreja não é uma ONG, mas uma extensão da presença de Cristo no mundo.
ZENIT: A CNBB é uma entidade séria e necessária para a nossa Igreja, mas existe a possibilidade de que os seus colaboradores errem?
Dom Murilo: Onde há seres humanos há a possibilidade de erros. Minha longa experiência na CNBB tem me mostrado que se pode falar da presença do Espírito Santo naquelas iniciativas que foram rezadas, refletidas e debatidas por todos os bispos. Assim, num documento aprovado, não prevalece a ideia de um ou de outro; nossos documentos oficiais são a síntese do que os bispos pensam. Pode-se dizer, então, que aquele texto é o que o Espírito Santo está querendo falar às nossas Dioceses. Não digo o mesmo de iniciativas de pequenos grupos ou de comissões, onde facilmente pode prevalecer a ideia de uma pessoa ou de um grupo. Nesse caso, o que for apresentado não é um texto "da" CNBB, mas sim daquela comissão.
ZENIT: O que significa uma conferência episcopal encabeçar essa campanha de reforma política?
Dom Murilo: O Brasil enfrenta problemas sérios e graves. A Igreja não pode ignorá-los. Com o Evangelho nas mãos, deve dar uma orientação, apresentar critérios, ajudar na reflexão. De minha parte, nesta campanha de reforma política eu preferiria que a própria Igreja apresentasse suas propostas, fruto da reflexão de todos os Bispos, como foi feito por ocasião da Constituinte, em que a CNBB apresentou um texto riquíssimo: "Por uma nova ordem constitucional". Nesse documento, estava claro o que a Igreja no Brasil tinha como proposta para a Constituição que estava sendo preparada para ser posteriormente aprovada. Nem todas as nossas propostas foram aceitas; hoje, não poucas pessoas reconhecem que com isso quem perdeu foi o país. Desta vez, na campanha pela reforma política, a CNBB participa de um processo que engloba dezenas de grupos da sociedade civil. As propostas feitas são, pois, expressão do que esses grupos desejam, fruto da busca de consenso. Assim, algumas das propostas não correspondem ao que nós bispos defendemos ou, ao menos, o que muitos bispos pensam; nem algumas propostas que julgamos importantes estão ali. Repito, preferiria uma proposta nossa e, quem concordasse com elas, participasse de nossa campanha - como aconteceu por ocasião da Constituinte. Por sinal, a grande maioria das assinaturas que estão sendo colhidas são fruto do trabalho feito em nossas Dioceses e em nossas Paróquias - ao menos é o que acontece aqui na Bahia. Não creio que seja diferente nos outros estados do Brasil.
ZENIT: O projeto em questão, por exemplo, propõe o financiamento das campanhas com o dinheiro do povo, esse mesmo dinheiro público que mal dá para nos garantir saúde, educação e segurança, além de entrar no mérito das discussões de "gênero" e do voto de "lista fechada", tudo de acordo com a vontade do partido atualmente no poder. Por que um assunto tão opinável, e em pontos, até mesmo contrário à filosofia cristã, está sendo proposto como algo bom e que deve ser abraçado pelos católicos do Brasil?
Dom Murilo: Em parte, penso já ter respondido a essa pergunta. Ao aceitar participar de uma iniciativa que engloba dezenas de entidades, deu no que deu. Insisto: tais propostas não tiveram a participação de todos os Bispos; são fruto, sim, de uma reflexão que envolveu principalmente algumas comissões episcopais.
Acompanhe a entrevista abaixo:
Brasília, (Zenit.org) Thácio Siqueira
ZENIT: Ultimamente, referindo-se ao tema da Reforma Política e da Campanha da Fraternidade no Brasil, o senhor tem falado que não é papel da Igreja ocupar o lugar do Estado. Por que essa é a sua opinião?
Dom Murilo: A Constituição de nosso país reconhece ser dever do Estado cuidar da saúde, da educação, da escola etc. Nesse campo, atualmente a Igreja tem um papel supletivo - isto é, deve atuar onde não há a presença do Estado ou onde tal presença não é suficiente. No passado, quando a organização social era muito limitada, a Igreja sentia ser seu dever abrir hospitais, creches, escolas etc. Hoje só tem sentido manter essas obras ou fundá-las se, com seus valores, a Igreja quiser "fazer a diferença" - isto é, apresentar uma maneira própria de curar, educar, formar etc. Essa "maneira própria" são as motivações evangélicas isto é, o desejo de mostrar como vemos o doente, o jovem a ser educado, o idoso abandonado, a partir do que nos ensinou Jesus. Se for para ter, por exemplo, um escola "como as outras", sem os valores do Evangelho, não valeria a pena tanto esforço, mesmo que se tratasse de uma escola de boa qualidade. Afinal, como bem insiste o Papa Francisco, a Igreja não é uma ONG, mas uma extensão da presença de Cristo no mundo.
ZENIT: A CNBB é uma entidade séria e necessária para a nossa Igreja, mas existe a possibilidade de que os seus colaboradores errem?
Dom Murilo: Onde há seres humanos há a possibilidade de erros. Minha longa experiência na CNBB tem me mostrado que se pode falar da presença do Espírito Santo naquelas iniciativas que foram rezadas, refletidas e debatidas por todos os bispos. Assim, num documento aprovado, não prevalece a ideia de um ou de outro; nossos documentos oficiais são a síntese do que os bispos pensam. Pode-se dizer, então, que aquele texto é o que o Espírito Santo está querendo falar às nossas Dioceses. Não digo o mesmo de iniciativas de pequenos grupos ou de comissões, onde facilmente pode prevalecer a ideia de uma pessoa ou de um grupo. Nesse caso, o que for apresentado não é um texto "da" CNBB, mas sim daquela comissão.
ZENIT: O que significa uma conferência episcopal encabeçar essa campanha de reforma política?
Dom Murilo: O Brasil enfrenta problemas sérios e graves. A Igreja não pode ignorá-los. Com o Evangelho nas mãos, deve dar uma orientação, apresentar critérios, ajudar na reflexão. De minha parte, nesta campanha de reforma política eu preferiria que a própria Igreja apresentasse suas propostas, fruto da reflexão de todos os Bispos, como foi feito por ocasião da Constituinte, em que a CNBB apresentou um texto riquíssimo: "Por uma nova ordem constitucional". Nesse documento, estava claro o que a Igreja no Brasil tinha como proposta para a Constituição que estava sendo preparada para ser posteriormente aprovada. Nem todas as nossas propostas foram aceitas; hoje, não poucas pessoas reconhecem que com isso quem perdeu foi o país. Desta vez, na campanha pela reforma política, a CNBB participa de um processo que engloba dezenas de grupos da sociedade civil. As propostas feitas são, pois, expressão do que esses grupos desejam, fruto da busca de consenso. Assim, algumas das propostas não correspondem ao que nós bispos defendemos ou, ao menos, o que muitos bispos pensam; nem algumas propostas que julgamos importantes estão ali. Repito, preferiria uma proposta nossa e, quem concordasse com elas, participasse de nossa campanha - como aconteceu por ocasião da Constituinte. Por sinal, a grande maioria das assinaturas que estão sendo colhidas são fruto do trabalho feito em nossas Dioceses e em nossas Paróquias - ao menos é o que acontece aqui na Bahia. Não creio que seja diferente nos outros estados do Brasil.
ZENIT: O projeto em questão, por exemplo, propõe o financiamento das campanhas com o dinheiro do povo, esse mesmo dinheiro público que mal dá para nos garantir saúde, educação e segurança, além de entrar no mérito das discussões de "gênero" e do voto de "lista fechada", tudo de acordo com a vontade do partido atualmente no poder. Por que um assunto tão opinável, e em pontos, até mesmo contrário à filosofia cristã, está sendo proposto como algo bom e que deve ser abraçado pelos católicos do Brasil?
Dom Murilo: Em parte, penso já ter respondido a essa pergunta. Ao aceitar participar de uma iniciativa que engloba dezenas de entidades, deu no que deu. Insisto: tais propostas não tiveram a participação de todos os Bispos; são fruto, sim, de uma reflexão que envolveu principalmente algumas comissões episcopais.
(09 de Março de 2015) © Innovative Media Inc.
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Nós já comentamos sobre esse projeto e nos posicionamos contra a coleta de assinaturas nas igrejas:
Não assine o Projeto de "Reforma Política" apoiado pela CNBB!
E indicamos várias opiniões embasados sobre isso:
- http://ocatequista.com.br/archives/13548
- http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/15360-2014-07-29-22-25-37.html
- http://pensararealidade.blogspot.com.br/2013/12/reforma-politica-pode-se-tornar-golpe.html
Também, por causa de algumas reações desfavoráveis de alguns poucos leitores, que julgaram que somos contra a CNBB, escrevemos um Esclarecimento acerca da nossa posição frente à CNBB em que explicamos o que é e quais são os limites da Conferência Episcopal, muito de acordo com o que o arcebispo primaz do Brasil explicou na entrevista acima.
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Dom Murilo (que é um bispo) está errado. Os demais bispos em sua esmagadora maioria e o papa estão corretissímos. Reforma Política já!
ResponderExcluirapa Francisco defendeu que as campanhas eleitorais sejam financiadas com dinheiro público para evitar que "interesses" influenciem a atuação dos candidatos. A declaração está em uma entrevista do Pontífice à revista La Carcova News, publicação paroquial de um bairro pobre da periferia de Buenos Aires.
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Perguntado se tinha alguma sugestão aos governantes argentinos, que estão em ano eleitoral, ele respondeu: "Primeiro, que proponham uma plataforma clara. Que cada um diga 'no governo, nós faremos isso e aquilo'. Muito concreto! A plataforma eleitoral é algo sério, ajuda as pessoas a verem aquilo que cada um pensa."
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Além disso, Francisco declarou que candidatos devem, antes de tudo, conhecer as propostas dos seus próprios partidos, coisa que muitas vezes não acontece. Em seguida, o Papa declarou que é preciso chegar a um modelo de campanha que não seja financiado.
"O financiamento da campanha eleitoral envolve muitos interesses, que depois cobram a conta. Evidentemente, é um ideal, porque é preciso de dinheiro para manifestos, para a televisão. Em todo caso, que o financiamento seja público. Eu, como cidadão, sei que financio esse candidato com essa exata soma de dinheiro, que tudo seja transparente e limpo", explicou.
http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/papa-defende-financiamento-publico-de-campanhas-eleitorais,c5951c5f5760c410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Não há "esmagadora maioria" de bispos. A proposta é da Comissão política, meia dúzia de bispos, padres e leigos, e assinada pela presidência (3 bispos).
ExcluirMas ainda que fosse TODOS os bispos, isso não seria garantia de que eles estão certos. Ainda que S. S. o Papa ache tal ou tal coisa sobre ASPECTOS TÉCNICOS da política, ele não é infalível nessa opinião.
DSI 68: "«A missão própria que Cristo confiou à sua Igreja não é de ordem política, econômica e social. Pois a finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa. Mas, na verdade, desta mesma missão religiosa decorrem benefícios, luzes e forças que podem auxiliar a organização e o fortalecimento da comunidade humana segundo a Lei de Deus». Isto quer dizer que a Igreja, com a sua doutrina social, NÃO ENTRA EM QUESTÕES TÉCNICAS e não institui NEM PROPÕES SISTEMAS OU MODELOS de organização social".
Além disso, a DSI é descentralizadora, pelo princípio da subsidiariedade. Propor financiamento público de campanha não é garantia de fim de corrupção eleitoral, pelo contrário. Por que esse sistema é tão querido pelo atual governo, que sugou tanto o dinheiro público em favor próprio?
Como disse, a melhor proposta seria a que menos tiver a pesada mão do Governo. Por que confiaríamos todos os ovos na única cesta furada do nosso corrupto sistema político?
Reforma política boa é a que elimina a causa do problema. E o problema são as pessoas, não suas ferramentas.