Desejamos oferecer aos nossos leitores uma série de critérios que orientem uma boa escolha entre os candidatos aos diversos cargos políticos.
Ainda que os critérios sejam baseados na
Doutrina Social da Igreja Católica, "
é proposto também aos irmãos de outras Igrejas e
Comunidades Eclesiais, aos sequazes de outras religiões, bem como a quantos,
homens e mulheres de boa vontade, se empenham em servir o bem comum:
queiram-no acolher como o
fruto de uma experiência humana universal" (
DSI, 12). Em geral, os crentes de todas as denominações cristãs acolhem e encontram na DSI um guia seguro para questões sociais, pois não trata de doutrinas religiosas.
Depois de ler estas orientações, acompanhe também (links no fim do texto) o comparativo que fizemos das
propostas de governo dos candidatos à Presidência da República para as eleições de 2014 e
2018.
Apresentamos aqui as orientações de forma sintética, quase totalmente cópia dos seguintes
sites. O leitor interessado poderá se aprofundar nas fontes que utilizamos:
- http://www.presbiteros.com.br/site/orientacoes-sobre-politica-e-eleicoes-d-fernando-rifan/
- http://www.catolicismoverdade.com.br/2010/09/orientacoes-e-criterios-para-as.html
- http://portalcatolico.org.br/portal/eleicoes-2006-orientacoes-da-cnbb/
- http://diocesedeguarulhos.org.br/site/index.php/criterioseleicoes/
- http://www.arquidiocesejuizdefora.org.br/downloads/documentos/1/mensagem_eleicoes_2012.pdf
Contribuições serão bem-vindas, através dos comentários do blog ou pelo email: contato@martyria.com.br.
Orientações básicas iniciais
- Ninguém deve anular o voto ou votar em branco. Nesse caso, poderá estar
favorecendo a quem não é digno.
- Se o melhor candidato não é o melhor nas pesquisas, não importa; desperdício é votar em quem não quer para não "perder o voto". Eleição não é bolão. Se todos parecem ruins, vote no menos ruim. Porém, é válido o voto estratégico em um candidato que não é o melhor de todos, mas o melhor para o momento (para evitar um segundo turno ruim, para não diluir os votos entre candidatos inexpressivos, etc.)
- Nunca se deve aceitar doações em dinheiro, ou em bens materiais, ou qualquer
outro benefício de candidatos em troca do voto. Quem vende seu voto, vende sua
dignidade.
- O candidato deve defender a dignidade da pessoa humana em primeiro lugar. Esse é o primeiro princípio da DSI, que informa toda a ação política e social. Informe‐se a respeito da
postura do candidato, se vai defender a vida humana desde a
concepção (fecundação) até o seu fim natural, mesmo que não esteja em seu programa. Um governo que não respeita esse critério básico tem uma noção invertida da realidade.
- Informe‐se a respeito do desempenho político do candidato
e se ele tem ficha limpa. Não vote em candidato que tenha histórico de corrupção. Avalie a postura ética e as realizações feitas pelo candidato
em ocasiões antecedentes. Se ele foi inoperante ou oportunista, se ele não tem
projetos realizáveis, não deve confiar‐lhe o voto.
- Acompanhe a propaganda
eleitoral, os debates, as entrevistas, porém saiba que podem utilizar da mentira, da simulação e de estratégias de marketing e convencimento. Estude sobre política e sobre a Doutrina Social da Igreja.
- Avalie o Partido do candidato. No atual regime de governo e eleitoral, o partido pode mandar mais que o candidato eleito. O político é fiel às diretrizes do Partido.
Critérios práticos para avaliação
(DOS BISPOS DO ESTADO DO RIO DO REGIONAL LESTE 1 DA CNBB)
- O primeiro critério para votar em um candidato é a defesa da dignidade da Pessoa Humana e da Vida
em todas as suas manifestações, desde a sua concepção até o seu fim
natural com a morte. Rejeitamos veementemente toda forma de violência,
bem como qualquer tipo de aborto, de exploração e mercado de menores, de
eutanásia e qualquer forma de manipulação genética.
- O segundo critério é a defesa da Família na qual a
pessoa cresce e se realiza. Por isso devem ser votados aqueles
candidatos que incentivam, com propostas concretas, o desenvolvimento da
família segundo o plano de Deus. Opõem-se ao casamento entre pessoas do
mesmo sexo, à adoção de crianças por casais homoafetivos, à legalização
da prostituição, das drogas e ao tráfico de mulheres.
- O terceiro critério é a liberdade de Educação pela
qual os pais têm o direito de educar os filhos segundo a visão de vida
que eles julguem mais adequada. Isso comporta uma luta pela qualidade da
escola pública e pela defesa da escola particular, defendendo o ensino
religioso confessional, de acordo com o princípio
constitucional da liberdade religiosa, reconhecido também no recente
Acordo entre Brasil e Santa Sé.
- O quarto critério é o princípio da solidariedade,
segundo o qual o Estado e as famílias devem ter uma particular atenção
preferencial pelos pobres, àqueles que são excluídos e marginalizados.
Deve-se garantir uma cidadania plena para todos/as, assegurando o pleno
exercício dos direitos sociais: trabalho, moradia, saúde, educação e
segurança.
- O quinto critério é o princípio de subsidiariedade, ou
seja, haja autonomia e ação direta participativa dos grupos,
associações e famílias fazendo o que podem realizar, sem interferências
ou intromissões do Estado. Este deve apoiar e subsidiar, nunca abafar ou
sufocar as liberdades e a criatividade das pessoas. Assim elas poderão
exercer uma cidadania ativa e gestora.
- Enfim, diante de uma situação de violência generalizada, os
candidatos devem, de forma concreta e decidida, comprometer-se na
construção de uma Cultura da Paz em todos os níveis, particularmente na educação e na defesa da infância e da adolescência.
Orientações gerais
1. GRAVIDADE DA SITUAÇÃO POLÍTICA ATUAL
A situação política atual é de fato
decadente. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os
costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres
corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência.
Como cristãos, nós sabemos que a base da
moral e da ética é a lei de Deus, natural e positiva, traduzida na
conduta pelo que se chama o santo temor de Deus, ou a consciência reta e
timorata. Uma vez perdido o santo temor de Deus, perde-se a retidão da
consciência, que passa a ser regida pelas paixões.
2. A POLÍTICA E O BEM COMUM
Segundo Aristóteles, “o homem é por natureza um animal político, destinado a viver em sociedade” (Política, I, 1,9)
.
E, continua Aristóteles, “toda a cidade é evidentemente uma associação,
e toda a associação só se forma para algum bem, dado que os homens,
sejam eles quais forem, tudo fazem para o fim do que lhes parece ser
bom”. E Santo Tomás de Aquino cunhou o termo
bem comum, ou bem público, que é o bem de toda a sociedade, dando-o como finalidade do Estado.
“A comunidade política existe… em vista
do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e
dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele
compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos
indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a
própria perfeição” (
Gaudium et Spes).
Daí se conclui que a cidade – o Estado –
exige um governo que a dirija para o bem comum. Por isso não se pode
separar a política do poder.
Assim sendo, a política é de interesse e
responsabilidade de todos os cidadãos. Todos têm essa grave
responsabilidade na escolha daqueles que vão deter o poder e no
acompanhamento das administrações públicas, pois é o bem comum que está
em jogo.
Quando o exercício do poder, executivo
ou legislativo, ao invés da procura do bem comum, se transforma em
instrumento para se obter benefícios particulares, quando o poder
legislativo não se propõe fiscalizar mas ser conivente com os desmandos
do executivo, quando, nas eleições, já se antevê o jogo da corrupção e
os candidatos apostando mais na força do dinheiro do que na força da
persuasão de suas propostas administrativas, então as previsões não são
de uma política sadia para o bem de todos os concidadãos.
3. AS FORMAS DE GOVERNO
Discute-se muito qual seria a melhor
forma de governo. Para a maioria dos sociólogos cristãos a melhor forma
de governo seria a monarquia. Para Winston Churchil, a democracia é a
pior forma de governo, com exceção de todas as outras! Para Santo Tomás
de Aquino, a melhor forma de governo seria a monarquia, temperada com a
aristocracia e a democracia. Ou seja, uma só cabeça, que, seguindo os
conselhos dos melhores e ouvido o povo, governasse harmonicamente a
sociedade.
O
Papa Leão XIII solucionou essa
discussão dizendo que
qualquer forma de governo, desde que correta,
poderia se enquadrar dentro dos princípios cristãos e ser apoiada pelos
católicos.
O mal são os abusos e as
deteriorizações. A corrupção da monarquia é a tirania, o absolutismo, o
despotismo. A corrupção da aristocracia é a oligarquia, o governo das
“mafias”, das “panelinhas”. E a corrupção da democracia é a demagogia, o
populismo.
Assim como a melhor forma de governo
seria a união do que há de melhor nas tres modalidades, monarquia,
aristocracia e democracia, assim também a pior forma de governo seria a
união das deteriorizações e abusos das três formas de governo.
Já imaginaram um governo demagógico, ao mesmo tempo tirânico e mafioso?
Os frutos desse desgoverno serão a
insegurança, a perseguição, o pânico, o triunfo da marginalidade, a
corrupção das instituições, a anarquia, o caos social. Será que já estamos vivenciando isto?
4. LIBERDADE RESPONSÁVEL E RELIGIÃO
“O desenvolvimento humano integral
supõe a
liberdade responsável da pessoa e dos povos, pois nenhuma
estrutura pode garantir tal desenvolvimento fora e acima da
responsabilidade humana” (Bento XVI, Enc.
Caritas in veritate).
Como a palavra “liberdade” está sujeita a
muitas interpretações errôneas, a Igreja, no seu Catecismo, faz questão
de nos ensinar o seu correto significado:
“O exercício da liberdade não implica o
direito de dizer e fazer tudo. Fugindo da lei moral, o homem prejudica
sua própria liberdade, acorrenta-se a si mesmo, rompe a fraternidade com
seus semelhantes e rebela-se contra a verdade divina. O direito ao
exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade do
homem, sobretudo em matéria religiosa e moral. Mas o exercício da
liberdade não implica o suposto direito de tudo dizer e fazer. ‘É para a
liberdade que Cristo nos libertou’ (Gl 5,1).”
O Estado não pode ignorar a religião. Quando Deus é destronado, uma ideologia material toma seu lugar.
“A Igreja convida os poderes políticos a
referir seu julgamento e suas decisões a esta inspiração da verdade
sobre Deus e sobre o homem: ‘As sociedades que ignoram esta inspiração
ou a recusam em nome de sua independência em relação a Deus são levadas a
procurar em si mesmas ou a tomar de uma ideologia os seus referenciais e
os seu objetivos e, não admitindo que se defenda um critério objetivo
do bem e do mal, arrogam a si, sobre o homem e sobre seu destino, um
poder totalitário, declarado ou dissimulado, como mostra a história’
(João Paulo II, encíclica Centesimus Annus).”
“A tal propósito, convém recordar uma
verdade que hoje nem sempre é bem entendida ou formulada com exatidão na
opinião pública corrente; a de que o direito à liberdade de consciência
e, de modo especial, à liberdade religiosa, proclamado pela Declaração Dignitatis humanae do
Concílio Vaticano II, está fundado sobre a dignidade ontológica da
pessoa humana e, de maneira nenhuma, sobre uma inexistente igualdade
entre as religiões e os sistemas culturais humanos”.
Isso não significa tolerar o
erro das religiões. Quando uma doutrina religiosa não respeita a dignidade humana em qualquer de seus aspectos (
como as que fazem uso da violência), significa que é uma falsa religião, uma anti-religião. Desta
religião anti-humana o Estado tem o dever de defender seu povo.
5. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Na política, o católico, e quem acredite no Evangelho, deve estar bem
ciente dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja, que
devem servir de pauta à sociedade, baseados na lei natural e na busca do
bem comum, e ver se os seus candidatos adotam esses princípios (cf.
Compêndio da Doutrina Social da Igreja do Pontifício Conselho “Justiça e
Paz”).
1º. Subordinação da ordem social à ordem moral estabelecida por Deus:
“A solução dos graves problemas
nacionais e internacionais não é apenas uma questão de produção
econômica ou de uma organização jurídica ou social, mas requer valores
ético-religiosos específicos, bem como mudanças de mentalidade, de
comportamento e de estruturas” (João Paulo II,
Centesimus annus 60).
“Aqui está precisamente o grande erro
das tendências dominantes do último século, erro destrutivo, como
demonstram os resultados tanto dos sistemas
marxistas como inclusive dos
capitalistas. Falsificam o conceito de realidade com a amputação da
realidade fundante, e por isso decisiva, que é Deus.
Quem exclui Deus de
seu horizonte, falsifica o conceito de ‘realidade’ e, em conseqüência,
só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas”
(Bento XVI,
Discurso inicial em Aparecida, 3).
À luz da doutrina cristã, todos
são pessoas, porque igualmente criados à imagem e semelhança de Deus e
remidos pelo sacrifício de Jesus Cristo: qualquer ser humano passou a
ser pessoa através das idéias cristãs do amor fraterno e da igualdade
perante Deus. O bem de cada pessoa e de todos em comum está acima dos interesses de grupos, de indivíduos, da economia, e de todos os outros seres. O homem é o ápice da criação de Deus e é administrador de todas as realidades do mundo.
Solidariedade aqui é
sinônimo de “amizade” (Leão XIII), “caridade social” (Pio XI) e
“civilização do amor” (Paulo VI).
“O homem deve contribuir, com seus
semelhantes, para o bem comum da sociedade, em todos os seus níveis. Sob
este ângulo, a doutrina da Igreja opõe-se a todas as formas de
individualismo social ou político” (CDF, Nota Doutrinal acima citada)
Ou seja, “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto
aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a
própria perfeição” (
Gaudium et Spes, 26).
5º. A opção preferencial pelos pobres:
“O Estado, na proteção dos direitos
particulares, deve preocupar-se, de maneira especial, dos fracos e dos
indigentes. A classe rica tem menos necessidade da tutela pública. A
classe indigente, ao contrário, sem riquezas que a ponham a coberto das
injustiças, conta principalmente com a proteção do Estado. Que o Estado
se faça, pois, sob um particularíssimo título, a providência dos
trabalhadores, que em geral pertencem à classe pobre” (Leão XIII,
Rerum Novarum 20).
6º. Não ao império do dinheiro,
à tendência de “
converter o lucro em valor supremo” (Bento XVI,
Discurso inicial em Aparecida, 2), posto
acima da moral. Não, portanto,
ao “capitalismo selvagem”. Sim ao
capitalismo sadio: sistema econômico
que reconhece o papel fundamental e positivo da
empresa, da
propriedade privada, da
responsabilidade pelos meios de produção, da
livre criatividade humana: economia de mercado.
7º. Não ao socialismo
“Os cristãos, hoje em dia, sentem-se
atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas evoluções…
contudo,
tal corrente foi e continua a ser, ... incompatível com a fé cristã” (Paulo VI,
Octogesima Adveniens, 31).
“Podem resumir sua teoria nesta fórmula
única: a abolição da propriedade privada” (Manifesto do Partido
Comunista, pp 62 e 38 – Marx e Engels).
“O socialismo, como doutrina ou fato
histórico ou ação, se é verdadeiro socialismo, não pode conciliar-se com
a doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente
avesso à verdade cristã” (Pio XI,
Quadragesimo Anno, 117).
Portanto, nenhum partido socialista ou comunista deve ser votado por um cristão. Saiba mais:
8º. Subsidiariedade ou ação subsidiária do Estado, que não absorva a
iniciativa das famílias e dos indivíduos.
Baseado no princípio de que o homem é
anterior ao Estado e que a sociedade doméstica tem sobre a sociedade
civil uma prioridade lógica e uma prioridade real, Pio XI ensina:
“Assim
como é injusto subtrair aos indivíduos o que eles podem fazer com a
própria iniciativa para confiá-lo à coletividade, do mesmo modo passar
para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e
inferiores poderiam conseguir é uma injustiça, um grave dano e
perturbação da boa ordem social”.
“Não é justo que o indivíduo ou a
família sejam
absorvidos pelo Estado” (Leão XIII,
Rerum Novarum, 52).
Que as famílias possam ter iniciativa privada, por exemplo, para
construir creches e escolas, sem que o Estado possa interferir, mas sim,
subsidiar. Que haja, pois, da parte do Estado, incentivo e subsídio à
iniciativa privada na geração de empregos e na educação.
Nem, portanto, o Estado gigante do
socialismo, nem o Estado raquítico do libertarianismo. Nem o
Estado onipresente, nem o Estado omisso. A expressão “Estado forte” pode muitas vezes clamufar o
significado de um Estado gigante, que não adota o princípio da
subsidiariedade. Governos, tanto federais, como estaduais e municipais,
que detêm a maioria dos empregos na sociedade, onde a maioria vive em
função do governo e dele dependente, são realmente Estados gigantes que
não adotam o princípio da subsidiariedade.
“Ambos têm necessidade um do outro: não
pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital” (Leão XIII,
Rerum Novarum, 28).
“O trabalho é causa eficiente primária, o capital é um instrumento ou causa instrumental”.
“É preciso acentuar o primado do homem
no processo de produção, o primado do homem em relação às coisas” (João
Paulo II,
Laborem exercens, 12).
“O direito à propriedade privada está
subordinado ao direito ao uso comum, subordinado à destinação universal
dos bens” (João Paulo II, Laborem exercens, 19).
Destinação e uso universal não significam
que tudo esteja à disposição de cada um ou de todos, e nem mesmo que a mesma
coisa sirva ou pertença a cada um ou a todos, mas que todo o homem deve ter a possibilidade de
usufruir do bem-estar necessário para o seu pleno desenvolvimento.
6. “DIREITOS HUMANOS”
O atual governo elaborou um
plano ou proposta de ação para agora e para o futuro, uma carta de
intenções, que tem provocado justas reações adversas, pois contraria
princípios da lei natural e divino-positiva, bem como normas da
verdadeira democracia. Chama-se “Programa nacional de Direitos Humanos 3
– PNDH-3”.
A propósito desse Programa, a CNBB,
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fez sua declaração, na qual,
entre outras afirmações, se lê:
“A Igreja se baseia
na concepção de Pessoa Humana que lhe advém da fé e da razão natural.
Diante de tantos reducionismos que consideram apenas alguns aspectos ou
dimensões do ser humano, é missão da Igreja anunciar uma antropologia
integral, uma visão de pessoa humana criada à imagem e semelhança de
Deus e chamada, em Cristo, a uma comunhão de vida eterna com o seu
Criador. A pessoa humana é, assim, sagrada, desde o momento de sua
concepção até o seu fim natural. ‘A fonte
última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres
humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio
ser humano e em Deus seu Criador’ (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 153). Tais direitos são ‘universais, invioláveis e inalienáveis’
(JOÃO XXIII, Pacem in Terris, 9)”.
“A CNBB reafirma sua posição, muitas vezes manifestada, em defesa da
vida e da família, e contrária à descriminalização do aborto, ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças
por casais homoafetivos. Rejeita, também, a criação de ‘mecanismos para
impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos
da União’, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar
nossas raízes históricas”.
"A sociedade brasileira já se
manifestou a respeito do retrocesso democrático e do caráter autoritário
destas propostas governamentais. A dimensão ética defendida pelo
Programa impõe a ditadura da laicidade, não respeita a nação brasileira
que é religiosa, fere a lei natural, manipula a autêntica visão dos
Direitos Humanos, transformando-os em direitos arbitrários. Repudiamos
toda lei ou doutrina que em nome dos Direitos Humanos, defende o aborto,
destrói a família, desrespeita o direito natural e impõe o pensamento
de uma minoria.”
Dom Aldo de Cillo Pagotto, Arcebispo da Paraíba, PB, ressalta ademais
que
“o decreto reflete a ideologia marxista, inspirando a libertação do
povo. Assim desde os anos 70 apregoam os fautores da esquerda festiva.
Notemos duas mudanças anticonstitucionais no texto do tal decreto.
Primeira: a desestabilização do legítimo direito de propriedade, ao
fomentar invasões de propriedades pelos movimentos e organizações
populares (leia-se MST, congêneres). Segunda: praticamente legitima a
invasão e a tomada de propriedades, pelo exercício de mediação entre
invasores e vítimas de invasão, antecedendo uma eventual decretação de
reintegração de posse, por parte do juiz. Pela Constituição, invasão é
crime. Pelo novo decreto, invasores adquirem status legal dos antigos
proprietários. Essas propostas açodam a insegurança no campo. Não se
trata de ocupar terras devolutas, mas invadir propriedades produtivas… A
grande aberração do documento é manipular os Direitos Humanos,
transformados em panacéia de ideologia. Vejam só! O decreto
estabeleceria a profissão para prostitutas. Ora, as pessoas que se
tornaram vítimas da difícil ‘vida fácil’, por certo gostariam de se
libertar dessa triste condição vexatória. O decreto estatui a
prostituição, a promiscuidade…”.
7. HOMOFOBIA E CULTURA HOMOSSEXUAL
Na linha de Santo Agostinho, que dizia
que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador, adotamos, nesse assunto, a
posição do
Catecismo da Igreja Católica (2357-2359), que nos ensina que
as pessoas que apresentam
inclinação homossexual, objetivamente
desordenada, devem ser acolhidas com
respeito e compaixão, evitando-se
para com elas todo sinal de
discriminação injusta. Elas também
são
chamadas à virtude e à santidade, que podem alcançar com o autodomínio e
a graça de Deus. Somos, portanto, contra a homofobia.
Diferente disso, está a atual cultura
homossexual, com propagandas, passeatas e promoções de todo o tipo,
incentivando, clara ou sublinarmente, que os atos objetivos de
homossexualidade seriam algo normal e de acordo com a moral, sendo
apenas uma questão de "opção sexual", o que é um grave erro.
São Paulo, apóstolo, fala “com
lágrimas”, que muitos “se gloriam daquilo de que se deveriam
envergonhar” (Epístola aos Filipenses 3,19). E, referindo-se aos pecados
e perversidade dos pagãos, o mesmo apóstolo nos recorda a moral
natural:
“Por isso, Deus os abandonou aos desejos dos seus corações, à
imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. Trocaram a
verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez
do Criador… Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas
mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do
mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam
em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a
torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario”
(Epístola aos Romanos 1, 24-27).
Ademais, contra injustiças que venham a ser praticadas contra essas pessoas, já existem leis suficientes. Ninguém deve ser vítima de violência, de difamação ou outros crimes, independente de qualquer condição da pessoa. Criar nova classe de pessoas e direitos é estimular ainda mais os preconceitos.
8. O PROBLEMA DA TERRA
A) A QUESTÃO AGRÁRIA
Nessa polêmica questão, há que,
inicialmente, recordar o princípio dado pelo Papa Leão XIII, o Papa da
questão social, de que não há solução para os problemas sociais e
econômicos sem o concurso das virtudes morais e religiosas. Os problemas
econômicos em geral não são só econômicos; são sobretudo morais. Daí a
necessidade de soluções morais.
Assim, a Igreja prega o desapego dos
bens materiais, combate a ganância e a ambição, mas defende o direito de
propriedade, pois o 7o Mandamento da Lei de Deus, ‘Não
furtar’, supõe evidentemente que cada um tenha o direito de possuir o
que é seu, verdade reafirmada no 10o Mandamento, ‘Não cobiçar as coisas alheias’.
Ademais, a doutrina cristã ensina que a
paz não virá da igualdade absoluta de uma sociedade sem classes, mas da
cooperação fraternalmente cristã de classes sociais dispostas
hierarquicamente de modo proporcional e harmônico, sob os ditames da
justiça e da caridade, que assim diminuirão a distância entre essas
classes.
Vale recordar o que já dizia Abraham
Lincoln no Congresso dos EUA em 1860:
“Não se pode criar prosperidade
desencorajando a poupança; fortalecer o fraco enfraquecendo o forte;
ajudar o assalariado destruindo o patrão; favorecer a fraternidade
humana encorajando a luta de classes; ajudar os pobres arruinando os
ricos; evitar aborrecimentos gastando mais do que se ganha; ajudar os
homens fazendo por eles o que eles próprios podem fazer”.
B) A REFORMA AGRÁRIA
O meio universal de prover às
necessidades da vida é o trabalho, quer se exerça em terreno próprio
quer no alheio. Por isso a Igreja advoga que haja, para todos, trabalho
digno remunerado com justiça.
E a Reforma Agrária compulsória e
fragmentadora, de estilo socialista e confiscatório, não encontra
respaldo na doutrina cristã e na Lei de Deus.
C) A INVASÃO DE TERRAS
"Nem a justiça, nem o bem comum consentem danificar alguém ou invadir a
sua propriedade sob nenhum pretexto’ (Rerum Novarum, 55)”.
“A
Igreja não pode estimular, inspirar ou apoiar as iniciativas ou
movimentos de ocupação de terras, quer por invasões pelo uso da força,
quer pela penetração sorrateira das propriedades agrícolas” (João Paulo II, Discurso aos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, na sua visita “ad limina”, março de 1996).
9. POLÍTICA E COERÊNCIA CRISTÃ
“Também para o cristão é válido que, se
ele quiser viver a sua fé numa ação política, concebida como um
serviço, não pode, sem se contradizer a si mesmo, aderir a sistemas
ideológicos ou políticos que se oponham radicalmente, ou então nos
pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua concepção do homem…” (cf.
Paulo VI,
Octogesima Adveniens, 26).
10. QUEM VENCE AS ELEIÇÕES?
Nem sempre vence as eleições quem merece nem quem deveria vencer. Por quê?
É a grande discussão sociológica e
filosófica sobre a verdadeira representatividade. Muitas vezes o povo vota influenciado pela propaganda, pelos formadores
de opinião, pelas pesquisas, sem muita reflexão e conhecimento pleno do
que significa o seu voto.
Jesus foi condenado à morte, a pedido
da maioria da população. Mas, por que Jesus perdeu essa eleição?
A morte de Jesus foi realmente o desejo da maioria do povo? Jesus, tão
querido por todos, cercado pelas multidões, aclamado pela população ao
entrar em Jerusalém, foi condenado por esse mesmo povo, cinco dias
depois?! Ou será que esse povo foi manobrado por uma minoria ruim, mas
muito hábil? O Evangelho diz que os chefes, os manipuladores de opinião,
influenciaram o povo a que pedisse Barrabás e condenasse Jesus. Ele
mesmo, ao morrer na cruz, pediu por eles perdão ao Pai, dizendo que eles
não sabiam o que faziam. Já não eram mais povo; tinham se tornado
massa.
Uma ocasião para se perceber a diferença
entre povo e massa são as eleições. Quem vota em quem grita mais, dá
mais dinheiro, agrada mais, é povo ou massa? Quem vota sem refletir ou
raciocinar, quem é levado só pela propaganda e não pela verdade e pela
razão, é povo ou massa? É homem ou irracional? Votemos como povo e não
como massa.
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