HOMILIA DO PAPA BENTO XVI. 15 de agosto
de 2008. (resumido):
É uma ocasião para nos elevarmos com
Maria às alturas do espírito, onde se respira o
ar puro da vida sobrenatural e se contempla a
beleza mais autêntica, a da santidade. O
clima
da celebração hodierna está inteiramente impregnado de alegria pascal. "Hoje assim
canta a antífona do Magnificat Maria subiu ao
Céu: alegrai-vos, com Cristo Ela reina para
sempre. Aleluia!". Este anúncio fala-nos de
um acontecimento totalmente único e extraordinário, mas que está destinado a encher de
esperança e de felicidade o coração de cada
ser humano. Com efeito, Maria é a primícia da
humanidade nova, a criatura em que o mistério de Cristo, encarnação, morte, ressurreição
e ascensão ao Céu, já teve o seu pleno efeito,
resgatando-a da morte e levando-a de corpo e
alma ao reino da vida imortal. A festa hodierna
impele-nos a elevar o olhar ao céu. Não se
trata de um céu feito de ideias abstratas, nem
sequer de um céu imaginário criado pela arte,
mas do céu da realidade autêntica, que é o
próprio Deus: Deus é o céu. E Ele é a nossa
meta, a meta e a morada eterna, de onde
vimos e para a qual tendemos.
São Germano, Bispo de Constantinopla no
século VIII, num discurso pronunciado na
festa da Assunção, dirigindo-se à celeste Mãe
de Deus, assim se expressava: "Tu és Aquela
que, por meio da tua carne imaculada, uniste
a Cristo o povo cristão... Como toda a pessoa
sequiosa corre à fonte, assim também toda a
alma corre a Ti, manancial de amor, e como
todo o homem aspira a viver, a ver a luz que
não conhece ocaso, assim também cada
cristão aspira a entrar na luz da Santíssima
Trindade, onde Tu já entraste".
A nova Eva seguiu o novo Adão no sofrimento, na Paixão e deste modo também na
alegria definitiva. Cristo é a primícia, mas a
sua carne ressuscitada é inseparável da carne
da sua Mãe terrena, Maria, e nela toda a
humanidade está envolvida na Assunção a
Deus, e com Ela toda a criação, cujos gemidos e sofrimentos são como diz São Paulo as
dores do parto da nova humanidade. Nascem
assim os novos céus e a nova terra, onde já
não haverá pranto, nem lamentações, porque
não haverá mais morte (cf. Ap 21, 1-4).
Sem dúvida, não são os raciocínios que nos
fazem compreender estas realidades tão
sublimes, mas sim a fé simples, pura, e o
silêncio da oração que nos põe em contacto
com o Mistério que nos ultrapassa infinitamente. A oração ajuda-nos a falar com Deus e a
sentir como o Senhor fala ao nosso coração.
Diante do triste espetáculo de tanta alegria
falsa e, contemporaneamente, de tanta dor
angustiada que se difunde pelo mundo, temos
que aprender dela a tornar-nos sinais de
esperança e de consolação, temos que anunciar com a nossa vida a Ressurreição de
Cristo.
PAPA BENTO XVI. Homilia na Solenidade da Assunção
de Nossa Senhora. 15 de agosto de 2010:
Na sua grande obra "A Cidade de Deus", Santo
Agostinho diz uma vez que toda a história humana,
a história do mundo, é uma luta entre dois amores:
o amor de Deus até à perda de si mesmo, até ao
dom de si próprio, e o amor de si até ao desprezo
de Deus, até ao ódio pelos outros [...].
Aqui (Ap 11-12), estes dois amores aparecem
em duas grandes figuras. Em primeiro lugar, há o
dragão vermelho, fortíssimo, com uma
manifestação impressionante e inquietadora do
poder sem a graça, sem o amor, do egoísmo
absoluto, do terror e da violência. No momento em
que São João escreveu o Apocalipse, para ele este
dragão realizava-se no poder dos imperadores
romanos anticristãos, de Nero a Domiciano. [...]
Quem podia opor-se a este poder omnipresente,
que parecia capaz de realizar tudo? E no entanto,
sabemos que no final venceu a mulher inerme, não
venceu o egoísmo, nem o ódio; venceu o amor de
Deus, e o império romano abriu-se à fé cristã.
As palavras da Sagrada Escritura transcendem
sempre o momento histórico. E assim, este dragão
indica não apenas o poder anticristão dos
perseguidores da Igreja daquela época, mas
também as ditaduras materialistas anticristãs de
todos os períodos. Também hoje existe o
dragão, de modos novos, diversos. Existe na forma
das ideologias materialistas, que nos dizem: é
absurdo pensar em Deus; é absurdo observar os
mandamentos de Deus; é algo de um tempo
passado. Somente é válido levar a vida em si
mesma. Tomar neste breve momento da vida tudo
aquilo que é possível. Só valem o consumo, o
egoísmo e a diversão. Esta é a vida. Assim
devemos viver. Também agora este dragão
parece invencível, mas inclusive agora é verdade
que Deus é mais forte que o dragão, que vence o
amor, e não o egoísmo.
Maria deixou atrás de si a morte; está totalmente
revestida de vida, tendo sido elevada em corpo e
alma à glória de Deus, e assim, posta na glória,
tendo ultrapassado a morte, diz-nos: ânimo, no fim
vence o amor! A minha vida consistia em dizer: sou
a serva de Deus, a minha vida eram dom de mim
mesma, por Deus e pelo próximo. E agora esta
vida de serviço chega à verdadeira vida. Tende
confiança, tende a coragem de viver assim
também vós, contra todas as ameaças do dragão.
Este é o primeiro significado da mulher, que
Maria chegou a ser. [...] Mas depois esta mulher
que sofre, [...] é também a Igreja, a Igreja peregr
ina
de todos os tempos. Em todas as gerações, ela
deve dar de novo à luz Cristo, levá-lo ao mundo
com grande dor deste modo doloroso. Perseguida
em todos os tempos, ela vive quase no deserto,
vítima do dragão.
E assim em toda a tribulaçã
o,
em todas as diversas situações da Igreja ao longo
dos tempos, nas diversas regiões do mundo,
sofrendo, vence. E é a presença, a garantia do
amor de Deus contra todas as ideologias do ódio e
do egoísmo. [...]
E assim a festa da Assunção é o convite a ter
confiança em Deus, e é também um convite a
imitar Maria naquilo que Ela mesma disse: eu sou
a serva do Senhor, e ponho-me à disposição do
Senhor. Esta é a lição: percorrer o seu caminho;
dar a nossa vida e não tomar a vida.
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