É intitulado "Oeconomicae et pecuniariae
quaestiones" o novo documento da Congregação para a Doutrina da Fé e do
Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Amedeo Lomonaco, Silvonei José - https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-05/vaticano-documento-sobre-questoes-economicas-financeiras.html
As temáticas econômicas e financeiras para progredirem "no caminho de
um bem-estar para o homem que seja real e integral", devem estar
ligadas a um claro "fundamento ético" e à necessária "união entre o
conhecimento técnico e a sabedoria humana". Esta é uma das premissas que
orientam o novo documento: ""
Oeconomicae pecuniariae quaestiones.
Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual
sistema econômico-financeiro". Trata-se de considerações aprovadas pelo
Papa Francisco, que também ordenou a sua publicação.
Documento apresentado pelo card. Turkson e mons. Ladaria
Participaram na apresentação do texto, na Sala de Imprensa da Santa
Sé nesta quinta-feira (17/05), o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson,
prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral
e Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé. No encontro com os jornalistas tomaram parte também os
economistas Leonardo Becchetti, professor de economia política na
Universidade Tor Vergata de Roma e Lorenzo Caprio, professor de finanças
corporativas na Universidade Católica.
O amor pelo bem integral é a chave para o desenvolvimento
Referindo-se à Carta Encíclica Laudato si 'do Papa Francisco, no
documento sublinha-se que "o amor pela sociedade e o compromisso para
com o bem comum são uma forma eminente de caridade, que diz respeito não
apenas às relações entre indivíduos, mas também "macro-relações,
relações sociais, econômicas e políticas". A chave para um
desenvolvimento autêntico é "o amor pelo bem integral, inseparável do
amor pela verdade". Para promover tal desenvolvimento é crucial "o
discernimento ético". E a Igreja – lê-se ainda no documento - "reconhece
entre suas tarefas primárias também a de recordar a todos, com humilde
certeza, alguns claros princípios éticos".
Mundo governado ainda com critérios obsoletos
O documento também analisa a história recente do tecido econômico
mundial. "A recente crise financeira - é enfatizado -, poderia ser uma
oportunidade para desenvolver uma nova economia mais atenta aos
princípios éticos e para uma nova regulamentação da atividade
financeira, neutralizando os aspectos predatórios e especulativos e
valorizando os serviços à economia real". Apesar dos "esforços positivos
em vários níveis", não houve "uma reação que tenha levado a repensar os
critérios obsoletos que continuam a governar o mundo".
Lucrar é deplorável
Um fenômeno inaceitável "é lucrar explorando a própria posição
dominante com a injusta desvantagem de outras pessoas ou enriquecer-se
gerando danos ou perturbações ao bem-estar coletivo". E esta prática é
particularmente deplorável, do ponto de vista moral, "quando a mera
intenção de ganhar por parte de poucos através do risco de uma
especulação visando provocar reduções artificiais nos preços dos títulos
da dívida pública, e não se preocupa em afetar negativamente ou agravar
a situação econômica de países inteiros ".
Economia e cultura do descarte
Preocupa, em particular, a difusão, também em âmbito econômico do que
o Papa Francisco chama de "cultura do descarte". "Está em jogo -
recorda o documento - o autêntico bem-estar da maioria dos homens e
mulheres de nosso planeta, os quais correm o risco de ficarem cada vez
mais confinados às margens, e até mesmo de serem excluídos e descartados
pelo progresso e pelo bem-estar real, enquanto algumas minorias
desfrutam e reservam para si mesmos enormes recursos e riquezas,
indiferentes à condição da maioria ".
O egoísmo faz com que todos paguem um preço muito alto
Em um contexto marcado por profundas desigualdades é necessário
repensar os modelos econômicos. "Portanto, é tempo – lê-se no texto – de
seguir com uma recuperação do que é autenticamente humano, ampliar os
horizontes da mente e do coração, para reconhecer com lealdade o que vem
das exigências da verdade e do bem". Está cada vez mais claro que "o
egoísmo no final não paga e faz com que todos paguem um preço alto
demais". A economia não deve ser vista como um instrumento de poder, mas
de serviço: "o dinheiro - se enfatiza no documento - deve servir e não
governar".
Novas formas de economia
Portanto, os operadores competentes e responsáveis são chamados a
"desenvolver novas formas de economia e finança, cujas práticas e regras
sejam dirigidas ao progresso do bem comum e respeitosas da dignidade
humana, no seguro sulco oferecido pelo ensinamento social da Igreja". Em
particular, se sente a necessidade de empreender uma reflexão ética
sobre "certos aspectos da intermediação financeira, cujo funcionamento,
quando desconectado de adequados fundamentos antropológicas e morais,
produz abusos e injustiças evidentes, como também se revelou capaz de
criar crises sistêmicas e de amplitude mundial".
Em busca do bem comum
Para remodelar os atuais sistemas econômico-financeiros, cada um de
nós – lê-se enfim no documento - "pode fazer muito, especialmente se não
permanecer sozinho": "muitas associações da sociedade civil representam
neste sentido uma reserva de consciência e responsabilidade social".
Hoje, mais do que nunca, "todos somos chamados a vigiar como sentinelas
da vida boa e a nos tornarmos intérpretes de um novo protagonismo
social, marcando nossa ação na busca do bem comum e baseando-a nos
sólidos princípios da solidariedade e da subsidiariedade".
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