07-12-2005
http://www.zenit.org/article-9674?l=portuguese
http://www.zenit.org/article-9674?l=portuguese
Entrevista com o professor Rafael
Pascual, L.C.
ROMA, quarta-feira, 7 de dezembro de 2005
(ZENIT.org).- «Evolução e criação podem ser compatíveis», reconhece o
filósofo e teólogo Rafael Pascual, L.C, até o ponto de que fala de «criação
evolutiva», declarando que a «Bíblia não tem uma finalidade científica».
O debate sobre evolução e fé é
candente no cenário mundial. Voltou a ser suscitado pelo arcebispo de Viena, o
cardeal Cristoph Schonborn, com um artigo publicado pelo «New York Times», em 7
de julho de 2005, onde afirmava que é Deus, através de um «desígnio
inteligente, o verdadeiro artífice da evolução».
«As teorias científicas que tentam
justificar a aparição do desígnio como resultado do caos e da necessidade não
são verdadeiramente científicas», acrescentava o purpurado austríaco.
Para compreender melhor esta
apaixonante questão, Zenit entrevistou o professor Pascual, diretor do Mestrado
em Ciência e Fé do Ateneu Pontifício «Regina Apostolorum» de Roma, que na
Itália acaba de publicar o livro «Evolução: cruz de caminhos entre ciência,
filosofia e teologia» («L’Evoluzione: crocevia di scienza, filosofia e
teologia», Editora Studium).
--Evolução, sim; evolucionismo, não?
--Padre Pascual: A evolução, entendida como teoria científica, fundada em dados empíricos, parece muito bem afirmada, ainda que não é totalmente verdade que já não tenha nada a acrescentar ou completar, sobretudo com respeito aos mecanismos que a regulam. Ao contrário, não me parece admissível o evolucionismo como ideologia que nega o finalismo, e sustenta que tudo se deve à casualidade e à necessidade, como afirma Jacques Monod em seu livro «Casualidade e necessidade», propondo o materialismo ateu. Este evolucionismo não é sustentável, nem como verdade científica, nem como conseqüência necessária da teoria científica da evolução, como alguns sustentam.
--Criação sim; criacionismo, não?
--Padre Pascual: A criação é uma
verdade compreensível para a razão, em especial para a filosofia, mas também é
uma verdade revelada. Por outro lado, o chamado criacionismo é também, como o
evolucionismo, uma ideologia fundada em muitas ocasiões em uma teologia
errônea, ou seja, em uma interpretação literal de algumas passagens da Bíblia,
a qual, segundo seus autores, com respeito à origem das espécies sustentaria a
criação imediata de cada espécie por parte de Deus, e a imutabilidade de cada
espécie com o passar do tempo.
--Evolução e criação são compatíveis?
--Padre Pascual: Evolução e criação em
si podem ser compatíveis; pode-se falar, sem cair em uma contradição, de uma
«criação evolutiva», enquanto que evolucionismo e criacionismo são
necessariamente incompatíveis.
Por outra parte, seguramente houve um
desígnio inteligente, mas, em minha opinião, não se trata de uma teoria
científica alternativa à teoria da evolução. Ao mesmo tempo, há que assinalar que
o evolucionismo, entendido como ideologia materialista e atéia, não é
científico.
--O que diz o Magistério da Igreja a
respeito?
--Padre Pascual: O Magistério da
Igreja, em si, não se opõe à evolução como teoria científica. Por uma parte,
deixa e pede aos cientistas que façam investigações no que constitui seu âmbito
específico. Mas, por outra, ante as ideologias que estão detrás de algumas
versões do evolucionismo, deixa claros alguns pontos fundamentais que devem ser
respeitados:
- não se pode excluir, «a priori», a
causalidade divina. A ciência não pode nem afirmá-la, nem negá-la.
- o ser humano foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Deste fato deriva sua dignidade e seu destino eterno.
- há uma descontinuidade entre o ser
humano e outros seres vivos, em virtude de sua alma espiritual, que não pode
ser gerada por simples reprodução natural, mas que é criada imediatamente por
Deus.
--Quais são as verdades fundamentais
sobre a origem do mundo e o ser humano que a Igreja indica como pontos básicos?
--Padre Pascual: Está claro que o
Magistério não entra em questões propriamente científicas, que deixa à pesquisa
dos especialistas, mas sente o dever de intervir para explicar as conseqüências
de tipo ético e religioso que tais questões comportam.
O primeiro princípio que se sublinha é
que a verdade não pode contradizer a verdade, ou seja, não pode haver um
verdadeiro contraste ou conflito entre uma verdade de fé (ou revelada), e uma
verdade de razão (ou seja, natural), porque as duas têm como origem a Deus.
Em segundo lugar, sublinha-se que a
Bíblia não tem uma finalidade científica, mas sim religiosa, pelo que não seria
correto tirar conseqüências que possam implicar a ciência, nem a respeito da
doutrina da origem do universo, nem enquanto a origem biológica do homem. Há
que fazer, portanto, uma correta exegese dos textos bíblicos, como indica
claramente a Pontifícia Comissão Bíblica em «A interpretação da Bíblia na
Igreja» (1993).
Em terceiro lugar, para a Igreja não
há, em princípio, incompatibilidade entre a verdade da criação e a teoria
científica da evolução. Deus poderia ter criado um mundo em evolução, o que em
si não tira a causalidade divina, ao contrário pode enfocá-la melhor quanto a
sua riqueza e virtualidade.
Em quarto lugar, sobre a questão da
origem do ser humano, poder-se-ia admitir um processo evolutivo com respeito a
sua corporeidade, mas, no caso da alma, pelo fato de ser espiritual, requer-se
uma ação criadora direta por parte de Deus, já que o que é espiritual não pode
ser originado por algo que não é espiritual. Entre matéria e espírito, há
descontinuidade. O espírito não pode fluir ou emergir da matéria, como afirmou
algum pensador. Portanto, no homem, há descontinuidade com respeito aos outros
seres vivos, um «salto ontológico».
Por último, e aqui nos encontramos
ante o ponto central: o fato de ser criado e querido imediatamente por Deus é o
único que pode justificar, em última instância, a dignidade do ser humano. Com
efeito, o homem não é o resultado da simples casualidade ou de uma fatalidade
cega, mas é o fruto de um desígnio divino. O ser humano foi criado à imagem e
semelhança de Deus, mais ainda, está chamado a uma relação de comunhão com
Deus. Seu destino é eterno, e por isso não está simplesmente sujeito às leis
deste mundo que passa. O ser humano é a única criatura que Deus quis para si
mesmo, é fim em si, e não pode ser tratado como meio para alcançar nenhum outro
fim, ou muito nobre que possa ser ou parecer.
--É necessário, portanto, uma antropologia
adequada que tenha em conta tudo isto e que dê razão do ser humano em sua
integridade.
--Padre Pascual: Sobre o tipo de
relação que a Igreja promove com o mundo da ciência, João Paulo II disse: «A
colaboração entre religião e ciência converte-se em ganância uma para a outra,
sem violar de nenhum modo as respectivas autonomias».
--Qual é o pensamento de Bento XVI
sobre criação e evolução?
--Padre Pascual: É evidente que não
nos encontramos ante uma alternativa tal como «criação ou evolução», mas ante uma
articulação. Em uma série de homilias sobre os primeiros capítulos do Gênesis,
o então arcebispo de Munique, o cardeal Joseph Ratzinger, escreveu em 1981: «A
fórmula exata é criação e evolução, porque as duas coisas respondem a duas
questões diversas. O relato do pó da terra e do alento de Deus não nos narra em
efeito como se originou o homem. Diz-nos o que é o homem. Fala-nos de sua
origem mais íntima, ilustra o projeto que está detrás dele. Vice-versa, a
teoria da evolução tenta definir e descrever processos biológicos. Não consegue
ao contrário explicar a origem do “projeto” homem, explicar sua proveniência
interior e sua essência. Encontramo-nos portanto ante duas questões que se
complementam, não se excluem».
Ratzinger fala do caráter racional da
fé na criação, que continua sendo, ainda hoje, a melhor e mais plausível das
hipóteses.
Com efeito, continua dizendo o texto e
Ratzinger, «mediante a razão da criação, Deus mesmo nos olha. A física, a
biologia, as ciências naturais em geral nos proporcionaram um relato novo da
criação, inaudito, com imagens grandiosas e novas, que nos permite reconhecer o
rosto do Criador e nos faze saber de novo: sim, no princípio e no fundo de todo
o ser está o Espírito Criador. O mundo não é o produto da escuridão e do absurdo.
Provém de uma inteligência, de uma liberdade, de uma beleza que é amor.
Reconhecer isto nos infunde o valor que nos permite viver, que nos faz capazes
de enfrentar confiantes a aventura da vida».
É significativo que, em sua homilia de
início de seu ministério petrino, o papa Bento XVI tenha dito: «Não somos o
produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um
pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é
necessário» (24 de abril de 2005).
«Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é necessário» papa Bento XVI (24 de abril de 2005).
ResponderExcluirComo diz a citação acima,o homem não pode ser fruto da simples casualidade ou de uma fatalidade, pois Deus criou o homem e o amou e, através da evolução o homem, ser criado por Deus, ele se aperfeiçoou, pq Deus deu a ele inteligência racional para que isso acontecesse. Este é o desígnio Divino.
A verdade não pode contradizer a verdade, ou seja, não pode haver um verdadeiro contraste ou conflito entre uma verdade de fé (ou revelada), e uma verdade de razão (ou seja, natural), porque as duas têm como origem a Deus.
ResponderExcluirQuanta beleza nos revela a criação, Deus quer e tudo passa a existir, não como vemos hoje, mas independente de como tudo começou, temos a certeza de que foi Deus que quis. A evolução não tira essa beleza, pelo contrário, nos mostra que Deus está por trás de tudo o que existe, permitindo que a vida siga seu processo.
ResponderExcluir