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"O milagre da multiplicação dos pães é muitas vezes citado por alguns Padres em suas homilias, como um ato simbólico, onde Jesus apenas orienta o povo a partilharem e se organizarem como comunidade. È correto interpretar os milagres de Cristo como simbolismo, ou esta prática é permitida somente em parábolas? "
Nossa resposta:
Os relatos dos milagres têm a função de confirmar a divindade de Cristo e sua missão, tanto que S. João chama de "sinais". Esvaziá-los de sentido real é acusar Jesus de charlatanismo, porque são os milagres que impressionaram o povo e as autoridades da época.
... vê-lo a Ele é ver o Pai (cfr. Jo. 14,9), com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição... (DV 4)
Sem dúvida também têm um sentido metafórico, mas este foi querido e muitas vezes explicado nos próprios Evangelhos.
No caso específico da multiplicação dos pães, antecede e prefigura a Eucaristia, como explica o Catecismo (1335):
Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção, partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão, prefiguram a superabundância deste pão único da suaEucaristia (167). O sinal da água transformada em vinho em Caná (168) já anuncia a «Hora» da glorificação de Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai, onde os fiéis beberão do vinho novo (169) tornado sangue de Cristo.O sentido literal do texto sagrado é o primeiro e mais importante. Entenda-se, porém:
Não é o caso, nos Evangelhos, que se constituem de narrativas, tentar encontrar sentidos escondidos. Dizer que a multiplicação dos pães foi feita a partir do que cada um levava é dizer sem base nenhuma. Não há contexto para isso. Os textos dizem que os discípulos distribuiam (eles é que distribuiam), todos comiam "tanto quanto queriam", se saciaram, colheram doze cestos "com os pedaços dos cinco pães".
É não apenas legítimo mas indispensável procurar definir o sentido preciso dos textos tais como foram produzidos por seus autores, sentido chamado de « literal ». Já são Tomás de Aquino afirmava sua importância fundamental ( S. Th., I, q.l, a. 10, ad. 1).
Esses detalhes são colocados no texto para fundamentar o milagre, não a partilha.
No texto de S. João, é mais interessante ainda que a multiplicação conta entre os sete sinais (milagres) e que é ele, o 4º sinal, que abre o capítulo 6, o discurso sobre a Eucaristia. Logo em seguida, é narrado o caminhar sobre as águas (5º sinal).
Temos então:
- um sinal de poder sobre a matéria do pão
- um sinal de poder sobre a matéria do próprio corpo
- um discurso sobre o pão do céu, carregado de "Eu sou" (o nome de Deus)
O 7º sinal é a ressurreição de Lázaro.
Portanto, Aquele que tem poder sobre a matéria (pão), sobre seu próprio corpo, a ponto de ressuscitar dos mortos, pode transformar pão em seu Corpo ressuscitado.
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