Em recente coletiva de imprensa, no voo de retorno da JMJ Panamá, o Papa Francisco foi questionado se teria uma opinião sobre a educação sexual escolar:
Existe um problema que é comum em toda a América Central, incluindo o Panamá e grande parte da América Latina: gravidez precoce. Só no Panamá foram dez mil no ano passado. Os detratores da Igreja Católica culpam-na por resistir à educação sexual nas escolas. Qual é a opinião do Papa?Isto foi destaque em diversos meios de correntes ideológicas e políticas favoráveis à prática, principalmente como "recado" ao novo governo brasileiro que vem sinalizando ser contra à ideologia de gênero, muitas vezes incluída nos programas de educação sexual. O Papa já havia pormenorizado o tema da educação sexual na Amoris Laetitia, sem se posicionar sobre a educação escolar.
"Creio que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus não é um monstro. É o dom de Deus para amar e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou explorar o outro, é um problema diferente. Precisamos oferecer uma educação sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica. Porque se nas escolas se dá uma educação sexual embebida de colonizações ideológicas, destrói a pessoa. O sexo como dom de Deus deve ser educado, não rigidamente. Educado, de "educere", para fazer emergir o melhor da pessoa e acompanhá-la no caminho. O problema está nos responsáveis pela educação, seja a nível nacional, seja local, como também em cada unidade escolar: quem são os professores para isso, que livros de textos usar... Eu vi de todos os tipos, há coisas que amadurecem e outras que causam danos. Digo isso sem entrar nos problemas políticos do Panamá: precisamos dar educação sexual para as crianças. O ideal é que comecem em casa, com os pais. Nem sempre é possível por causa de muitas situações familiares, ou porque não sabem como fazê-lo. A escola compensa isso e deve fazê-lo, caso contrário, resta um vazio que é preenchido por qualquer ideologia."
Contudo, é preciso relembrar que entrevista de avião não é Magistério da Igreja e opinião pessoal do Papa não é matéria vinculante de fé ou costumes.
Para a Igreja, a sexualidade humana pode e deve ser educada, em sua totalidade: na dimensão procriadora, afetiva, cognitiva e religiosa. Portanto, a educação sexual jamais deveria reduzir-se a mera informação sobre a sexualidade ou à fisiologia genital.
Quem deve dar esta educação? A Igreja nunca se omitiu quanto a isso:
"Assaz difuso é o erro dos que, com pretensões perigosas e más palavras, promovem a pretendida educação sexual, julgando erradamente poderem precaver os jovens contra os perigos da sensualidade, com meios puramente naturais, tais como uma temerária iniciação e instrução preventiva, indistintamente para todos, e até publicamente, e pior ainda, expondo-os por algum tempo às ocasiões para os acostumar, como dizem, e quase fortalecer-lhes o espírito contra aqueles perigos.O CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA dedicou um documento inteiro sobre o tema: SEXUALIDADE HUMANA:VERDADE E SIGNIFICADO - Orientações educativas em família.
Estes erram gravemente, não querendo reconhecer a natural fragilidade humana e a lei de que fala o Apóstolo: contrária à lei do espírito, e desprezando até a própria experiência dos factos, da qual consta que, nomeadamente nos jovens, as culpas contra os bons costumes são efeito, não tanto da ignorância intelectual, quanto e principalmente da fraqueza da vontade, exposta às ocasiões e não sustentada pelos meios da Graça.Se consideradas todas as circunstâncias se torna necessária, em tempo oportuno, alguma instrução individual, acerca deste delicadíssimo assunto, deve, quem recebeu de Deus a missão educadora e a graça própria desse estado, tomar todas as precauções, conhecidíssimas da educação cristã tradicional, e suficientemente descritas pelo já citado Antoniano, quando diz: « Tal e tão grande é a nossa miséria e a inclinação para o mal, que muitas vezes até as coisas que se dizem para remédio dos pecados são ocasião e incitamento para o mesmo pecado. Por isso importa sumamente que um bom pai quando discorre com o filho em matéria tão lúbrica, esteja bem atento, e não desça a particularidades e aos vários modos pelos quais esta hidra infernal envenena uma tão grande parte do mundo; não seja o caso que, em vez de extinguir este fogo, o sopre ou acenda imprudentemente no coração simples e tenro da criança. Geralmente falando, enquanto perdura a infância, bastará usar daqueles remédios que juntamente com o próprio efeito, inoculam a virtude da castidade e fecham a entrada ao vício »" (PAPA PIO XI, DIVINI ILLIUS MAGISTRI)
O Papa João Paulo II dá uma abertura para a escola, mas fica claro que não é qualquer escola:
"A educação sexual, direito e dever fundamental dos pais, deve actuar-se sempre sob a sua solícita guia, quer em casa quer nos centros educativos escolhidos e controlados por eles. Neste sentido a Igreja reafirma a lei da subsidiariedade, que a escola deve observar quando coopera na educação sexual, ao imbuir-se do mesmo espírito que anima os pais." (Familiaris consortio 37)Na sua Carta às famílias lamentou esses conteúdos:
"O utilitarismo é uma civilização da produção e do desfrutamento, uma civilização das «coisas» e não das «pessoas» ; uma civilização onde as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objecto, os filhos um obstáculo para os pais, a família uma instituição embaraçante para a liberdade dos membros que a compõem. Para convencer-se disto, basta examinar certos programas de educação sexual introduzidos nas escolas, não obstante o frequente parecer contrário e até os protestos de muitos pais".
Portanto, os pais de família não se esquivem de formar seus filhos e se formar nesses temas por vezes difíceis, mas que são de sua responsabilidade; bem como não deixem de vigiar e se impor sobre o que os outros querem ensinar aos seus filhos, na escola e nos meios de comunicação.
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Lexicon - termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas
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