Mc 13,31: “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão”.
A proximidade do fim do ano litúrgico, que culmina com a solenidade de Cristo, Rei do Universo, nos traz à memória os ditos de Jesus sobre a consumação da história.
Livro: A hora da morte |
A vida humana é marcada pela instabilidade e incerteza quanto ao futuro. O fim da história de cada um pode se dar a qualquer momento. O próprio Jesus admite que só o Pai conhece o dia e a hora final (Mc 13,32). Diante desta angústia humana, apresenta-se-nos algo definitivo: o sacrifício redentor do Cristo (Hb 10,12). Uma vez para sempre, foi aberta a possibilidade da vida feliz sem fim para além da morte. O único capaz de vencer a morte assumiu a condição de criatura para elevar consigo tudo e todos. Pela ressurreição, Cristo nos deu aquilo que não nos pertencia e não merecíamos, a vida plena em Deus, elevando à perfeição a obra de amor iniciada na criação. Como sinal dessa aliança, Jesus instituiu a Eucaristia como memorial de sua paixão e morte. Por ela, atualizamos e perpetuamos o sacrifício único e definitivo de Jesus, até que ele venha pôr fim à angústia da criação.
Somente Deus é definitivo, eterno, completo. Sempre falta algo nos seres criados. Se não faltasse, não seriam criaturas. Assim, não há nada de definitivo que podemos nos apoiar senão nas palavras de Jesus. “Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,31). Se alguém se apega às coisas que passam, esse pode passar junto com as coisas.
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Os três últimos domingos que encerram o
ano litúrgico, no ciclo de São Lucas, relatam a última viagem de Jesus a Jerusalém, onde
haveria de morrer. O discurso, porém, é sobre os nossos últimos dias.
“Tudo
será destruído”, é a advertência de Jesus. Diante
da tendência de algumas épocas ou grupos de ver nas guerras, calamidades
e perseguições o indício de um fim muito próximo, ouvimos: “É
preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.
Grande perseguição à Igreja foi prenunciada. Em última análise, a
perseguição é ao próprio Cristo: “Todos vos odiarão por causa do meu
nome.” Àqueles que permanecerem fiéis a esse Nome será certa a vida, não
esta que passa, mas a futura.
Se
o fim dos tempos anunciado pelo Cristo e ensinado pela Igreja não pode
ser previsto, o fim de cada indivíduo é certo e vem em breve. São Paulo
adverte que isso não é motivo de para quietismo ou ociosidade, mas todos
devem trabalhar e cooperar com a graça divina. A caridade cristã não
permite a acomodação e a resignação passiva, nem o extremo oposto do
pietismo, que pretende comprar a salvação por meio das muitas obras.
O
fim dos tempos, tanto no plano individual quanto no universal, é motivo
de esperança e alegria, conforme o salmista: “Exultem na presença do
Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com
justiça e as nações com equidade”. Porque Deus é justo, e sua justiça é
a misericórdia.
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