segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"Procissão da Bíblia" e "dança litúrgica"

http://www.cursoscatolicos.com.br/2012/03/curso-passos-para-uma-reforma-liturgica.html
A prática da entrada ou procissão da Bíblia, logo antes da primeira leitura, muitas vezes acompanhada de dança, vem sendo tolerada há muito tempo. Fato é que esse “rito” não existe oficialmente, isto é, nos livros e normas litúrgicas. O motivo pelo qual ainda não foi permitida oficialmente, apesar da intensa prática, é que (1) não tem nenhum sentido litúrgico-teológico e ainda (2) perturba o andamento da celebração.

1. Na liturgia, Cristo está presente na “palavra proferida”, não no livro: “Ele está presente em sua palavra visto que é ele próprio quem fala quando as Escrituras são lidas na Igreja”. Esta presença é sinalizada pelo ambão e pela beleza dos livros litúrgicos, isto é, o lecionário e o evangeliário. Em virtude deste sinal, o livro venerado deve ser o que vai ser lido. O livro das leituras ou a Bíblia não é Palavra de Deus se serve apenas como enfeite.

2. Após a Oração do dia ou coleta, os fiéis imediatamente se sentam e fazem silêncio para ouvir a Palavra de Deus. É a prática de séculos. Quando se introduz um rito não previsto neste momento, gera-se um desconforto na assembleia, quebra-se o ritmo. É um “ruído litúrgico”. O que é previsto é a entrada do evangeliário na procissão de entrada, levado pelo diácono ou, na falta deste, um leitor. É colocado no centro do altar, voltado para o povo, e é levado novamente em procissão na hora do Evangelho, por aquele que proclama. Na falta do evangeliário, entra o lecionário que vai direto ao ambão.

A CNBB, num tópico das “Orientações para a celebração da Palavra de Deus” de 1994, diz: “Convém que as comunidades, conforme as circunstâncias específicas, encontrem, dentro da variedade de gestos possíveis, ritos que permitem valorizar e realçar o Livro da Palavra (Bíblia, Lecionário) e a sua proclamação solene. O Livro, sinal da Palavra de Deus, é trazido em procissão, colocado na Mesa da Palavra, aclamado antes e depois da leitura e venerado. Não é recomendável que o leitor proclame a Palavra usando o folheto” (n. 70). Note-se que não se diz o momento adequado, nem que esta sugestão seja aplicável à Missa. Tinha em vista corrigir o abuso que é “folheto”, correndo o risco de gerar outros (o que, de fato, ocorreu). Pelo zelo e pela obrigação, opte-se pelas normas do Missal Romano, sinal da unidade litúrgica católica.

Sobre a dança, Cardeal Ratzinger escrevera: “A dança não é uma forma de expressão cristã. Já no século III, os círculos gnósticos-docéticos tentaram introduzi-la na Liturgia (…) As danças cultuais das diversas religiões são orientadas de maneiras variadas – invocação, magia analógica, êxtase místico; porém, nenhuma dessas formas corresponde à orientação interior a Liturgia do “sacrifício da Palavra”. É totalmente absurdo – na tentativa de tornar a Liturgia “mais atraente” recorrer a espetáculos de pantomimas de dança (Introdução ao Espírito da Liturgia, pg. 146). É permitida, assim como as palmas, somente nas culturas onde faz parte do acompanhamento natural do canto, que não é o nosso caso.

Quem incentiva essas práticas (normalmente “equipes de liturgia” que compreendem mal o sentido de criatividade) deveria se colocar antes no lugar da assembleia.


Fonte:

A reforma litúrgica de Bento XVI: passo-a-passo para a comunidade

Baseado em 3 comentários.
Um dos pontos fortes do pontificado do Papa Bento XVI é promover o que vem sendo chamado de “reforma da reforma"...

Curso "Passos para uma reforma litúrgica local"

2 comentários:

  1. Não sei quem escreveu esse artigo mas, certamente, desconhece ou ignora o documento no. 43 da CNBB - Animação da Vida Litúrgica no Brasil, editado em consonância com o ditame do artigo no. 30 "A participação do povo - Para fomentar a participação ativa, promovam-se as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes corporais. Não deve deixar de observar-se, a seu tempo, um silêncio sagrado." e artigo 37. Não é desejo da Igreja impor, nem mesmo na Liturgia, a não ser quando está em causa a fé e o bem de toda a comunidade, uma forma única e rígida, mas respeitar e procurar desenvolver as qualidades e dotes de espírito das várias raças e povos. e 38. Mantendo-se substancialmente a unidade do rito romano, dê-se possibilidade às legítimas diversidades e adaptações aos vários grupos étnicos, regiões e povos, sobretudo nas Missões, de se afirmarem, até na revisão dos livros litúrgicos; tenha-se isto oportunamente diante dos olhos ao estruturar os ritos e ao preparar as rubricas.", todos da Sacrossanto Concillium e, ainda, os itens 83. Nosso corpo, sensível e dócil ao movimento, é uma fonte inesgotável de expressão. Por isso, na liturgia têm importância os gestos, as posturas, as caminhadas e a dança. Vide no documento “Critérios Para a Dança na Liturgia” do CELAM – Conselho Episcopal para a América Latina: Aos Bispos Presidentes e Secretários Executivos da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia: Entre as preocupações e desafios apontados na reflexão dos participantes do citado Encontro, emergiu a conveniência da "dança litúrgica", nas celebrações dos sacramentos, em algumas comunidades da nossa Igreja latino-americana e caribenha.

    É por esta razão que os bispos, juntamente com especialistas na área da Missão e Liturgia do Departamento e Espiritualidade do CELAM, presentes na reunião, à luz do Magistério da Igreja assinalam dez critérios a serem considerados para a acolhida da "dança litúrgica", nas celebrações litúrgicas. A Igreja não exclui a dança como expressão de sua fé. A instrução sobre Liturgia e Inculturação, Varietates legitimae (1994), da Congregação para o Culto e a Disciplina dos Sacramentos, afirma: “Entre alguns povos, o canto é instintivamente acompanhado por palmas, balançados rítmicos ou movimentos de dança, por parte dos participantes. Tais formas de expressão corporal podem ter lugar nas ações litúrgicas desses povos, com a condição de que sejam sempre a expressão de uma verdadeira oração comunitária de adoração, de louvor, de oferenda e de súplica, e não um simples espetáculo” (VL 42).
    Por outro lado, a corporeidade é um meio natural de expressão do ser humano, de modo que também o movimento rítmico e os passos da dança podem ser uma autêntica forma ritual.
    A exemplo disso, recordamos que a dança litúrgica está contemplada em um ritual particular africano, o Missal Romano para as Dioceses do Zaire (Congo), para acompanhar a apresentação das oferendas.
    Vide também FICHA 77 - "DANÇA" LITÚRGICA - A LITURGIA "DANÇADA" - Jacques Trudel, S.J. – Ficha 77 de Formação Litúrgica em Mutirão da CNBB
    Será que estamos em igrejas diferentes?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, "não sei quem escreveu".
      Meu nome está assinado lá em cima. Fico com a segunda opção: prefiro ignorar uma orientação meramente sugestiva/pastoral, de "especialistas", quando ela está em contradição com a norma oficial, emanada de Sé Romana, pois não devemos criar Igrejas diferentes.
      Obrigado por esta contribuição: "Entre ALGUNS POVOS, o canto é instintivamente acompanhado por palmas, balançados rítmicos ou movimentos de dança, por parte dos participantes. Tais formas de expressão corporal podem ter lugar nas ações litúrgicas DESSES POVOS, com a CONDIÇÃO de que sejam sempre a expressão [NÃO UMA IMPOSIÇÃO DE "ESPECIALISTAS" E "EQUIPES"] de uma verdadeira oração comunitária de adoração, de louvor, de oferenda e de súplica, e NÃO UM SIMPLES ESPETÁCULO” (VL 42).
      O Cardeal Arinze, cujo povo é um desses que acompanham NATURALMENTE o canto com movimentos corporais, quando Prefeito da Congregação para o Culto Divino, respondeu muito bem essa questão: www.youtube.com/watch?v=-qunILnfndY
      O povo brasileiro, no máximo, admite um tamborilar de dedos e um balanço de tronco, com os pés plantados no chão. Coreografias cafonas, como algumas EQUIPES DE LITURGIA e "ESPECIALISTAS" querem impor, não se encaixam na nossa índole. Esses "especialistas" nunca notaram os rostos ruborizados de vergonha dos espectadores dessas pantomimas que esvaziam a Igreja.
      E tem mais: a questão mais profunda é a do canto. Se um canto provoca, em primeiro lugar, uma vontade de dançar, não é canto litúrgico. Eliminemos os cantos impróprios da liturgia e ninguém mais vai precisar falar em dança dentro da Igreja.

      Excluir