103. A análise
articulada e aprofundada das «res novæ»
[coisas novas, os novos tempos a que se referia Leão XIII na Rerum novarum], e especialmente a grande
guinada de 1989, com a derrocada do sistema soviético, contém um apreço pela democracia e pela economia livre, no quadro de uma
indispensável solidariedade.
312. A
globalização da economia, com a liberalização
dos mercados, o acentuar-se da concorrência, o aumento de empresas
especializadas no fornecimento de produtos e serviços, requer maior
flexibilidade no mercado do trabalho e na organização e na gestão dos processos
produtivos. No juízo sobre esta delicada
matéria, parece oportuno reservar uma maior atenção moral, cultural e no âmbito dos projetos, ao orientar o
agir social e político sobre as temáticas ligadas à identidade e aos conteúdos
do novo trabalho, num mercado e numa
economia que também são novos. As modificações do mercado do trabalho, não
raro, são um efeito da modificação do trabalho mesmo e não a sua causa.
335. Na
perspectiva do desenvolvimento integral e solidário, pode-se dar uma justa apreciação à avaliação moral que a doutrina
social oferece sobre a economia de mercado
ou, simplesmente, economia livre:
«Se por “capitalismo” se indica um
sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do
mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios
de produção, da livre criatividade humana no sector da economia, a resposta é
certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de “economia de
empresa”, ou de “economia de mercado”, ou simplesmente de “economia livre”. Mas
se por “capitalismo” se entende um sistema onde a liberdade no setor da
economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao
serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão
desta liberdade, cujo centro seja ético ereligioso,
então a resposta é sem dúvida negativa»[Centesimus
annus, 42]. Assim se define a perspectiva cristã acerca das condições
sociais e políticas da atividade econômica: não só as suas regras, mas a sua
qualidade moral e o seu significado.
336. A
doutrina social da Igreja considera a liberdade da pessoa em campo econômico um
valor fundamental e um direito inalienável a ser promovido e tutelado [...]
Então a Igreja aprova o contrário, o capitalismo? Não,
há restrições a fazer, e não é uma escolha excelente. A Igreja faz sempre críticas
também ao capitalismo.
Coloca-se um dilema — inexistente — entre
socialismo e capitalismo, como se tivéssemos que escolher entre esses dois,
considerando um bom e o outro ruim. A verdade é que o capitalismo é ruim, mas o
socialismo é pior.
O principal ponto negativo do Capitalismo, condenado
pela Igreja, é a separação entre Economia e Moral, que foi uma
consequência da separação entre Igreja e Estado.
Um segundo ponto negativo do Capitalismo — também condenado
— foi a livre concorrência absoluta
na Economia. A livre concorrência absoluta favorece, por exemplo, o produto
que dá mais lucro, geralmente o de pior qualidade, entre outras consequências.
Logo, temos pelo menos dois pontos negativos do
capitalismo: 1) a separação entre Economia e Moral e 2) a Livre
Concorrência Absoluta.
Se o Capitalismo tem esses dois pontos negativos,
ele manteve, entretanto, dois pontos positivos:
1) continuou a admitir o
direito de propriedade particular, que é um direito natural, direito que a Igreja
sempre defendeu;
2) o capitalismo permite a
livre iniciativa. Cada um pode trabalhar do modo que melhor lhe aprazer.
O Socialismo, ao contrário:
1) combate o direito de
propriedade particular; por isso é um sistema anti-natural, essencialmente mau;
2) combate a livre
iniciativa, pois o Estado é o controlador da economia, e o trabalhador é apenas
uma peça do sistema econômico.
Não se trata de escolher entre Capitalismo e
Socialismo ou entre Liberalismo e Comunismo. Entre dois males, se não houver
outra via, deve-se escolher o mal menor, o mal que permite ainda a existência
de uma certa ordem e de um certo bem.
Assim, entre Socialismo e Capitalismo, é preferível
o Capitalismo, pois permite a propriedade particular e a liberdade econômica.
Frisando: no capitalismo, está de acordo com a
Igreja o reconhecimento do direito natural a ter propriedade particular, assim
como o direito de livre iniciativa, contra o coletivismo e o dirigismo
socialista. Entretanto, a Igreja condena, e sempre condenou, no capitalismo, a separação entre economia e moral, típico
princípio liberal, como condena também a livre concorrência absoluta e sem
freio, que, de fato, acaba com a própria concorrência.
Portanto,
a Igreja não apoia o capitalismo sem nenhuma restrição, mas também não o
condena em absoluto, como fez com o socialismo.
Grande alegria ensinamento
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