sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

 Pe. Oscar G. Quevedo S.J. (*15/12/1930 - +09/01/2019)
O curandeiro se vale do poder da sugestão e da vontade, mas também de truques.

O curandeiro, precisamente por ser curandeiro e charlatão, a todos diagnostica, a todos receita e a todos diz que "cura". Os que vão embora sem ação "terapêutica", constituem exceção.
      Nos santuários Cristãos, porém, a ninguém se diagnostica, a ninguém se receita. E o que constitui exceção é a cura milagrosa. O Milagre não é regra, não é comum, é rara exceção. A finalidade do milagre não é substituir ou colaborar com a medicina. Trata-se unicamente de alentar a Fé e confirmar a doutrina revelada.
      Os que fazem a propaganda dos curandeiros dizem, sem verificação científica nenhuma, que ocorrem milhares e milhares de curas de cada curandeiro.
      Em contrapartida, após intermináveis verificações, a Igreja aprovou, em 100 anos de história de Lourdes, apenas 60 milagres. Sessenta curas entre milhões de pessoas que se dirigem a Lourdes primordialmente para rezar e honrar a Ssma. Virgem.
      Entre catolicismo e curandeirismo, há notáveis diferenças nos métodos empregados, por mais que o curandeiro queira, frequentemente, se disfarçar com aparências de ritos católicos.
      Não há dúvida de que uma grande parte do "êxito" dos curandeiros se deve a que eles influenciam seus "clientes" rodeando de mistério (sugestionando) as mais singelas práticas e os remédios mais inoperantes. Ritos emprestados do catolicismo tem sido associados frequentemente a processos "terapêuticos" postos em prática por adivinhos-curandeiros... Inclusive certas superstições difundidas entre os cristãos, como uma paródia dos sacramentais, tem sido também usadas pelos curandeiros ou por eles recomendadas, segundo os casos, com maiores ou menores modificações: unções (bênçãos) em forma de cruz, beber ou lavar-se com água benta, colocar sobre a parte doente do corpo uma relíquia ou qualquer outro substitutivo ou amuleto, orações mágicas ou "fortes" receitando-as aliás, durante um tríduo ou novena, etc.
      Desta imitação, por curandeirismos, dos sacramentais católicos, alguns pretendem identificar o milagre com a "cura" mágica. Mas, na realidade, essas caricaturas empregadas pelos curandeiros são muito diferentes do verdadeiro sentido dos sacramentos e sacramentais.
      Os sacramentos são infalíveis pela promessa divina, mas promessa unicamente da graça espiritual, nada tendo a ver com a saúde do corpo.
      Alguns autores citam o sacramento da extrema-unção (chamado também de Unção dos enfermos) como incurso em certo modo no curandeirismo, e citam o texto de São Tiago. Isto é um erro. O texto de São Tiago refere-se a algo bem diferente. O Texto visa principalmente o âmbito espiritual, sobrenatural, religioso, e só em um bem definido segundo plano, à saúde. "Está doente algum entre vós? Chame aos presbíteros da Igreja que orem sobre ele e o unjam com óleo no nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará e lhe serão perdoados os pecados que tiver cometido". É principalmente no terreno da salvação religiosa, do perdão dos pecados e do crescimento espiritual.
      Assim o tem entendido teórica e praticamente a Igreja, a intérprete autorizada, nos seus 20 séculos de história.
      Há quem, sectária e inconsideradamente, tenha acusado ao próprio Cristo de curandeirismo. Cristo respeitou todas as leis do seu tempo, mesmo o injusto tributo aos romanos. Não sabemos que houvesse então na Judéia, legislação contra o curandeirismo, mas em todo o caso a atitude de cristo é bem diferente da dos curandeiros.
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      Cristo não levou as massas à histeria emocional esperando a "cura". Ele não excitava a sugestionabilidade, não precisava da presença do doente, como demonstrou com a cura do filho de um oficial ou com a filha da Cananéia (Mc VII, 24-30) Curava mesmo quem não sabia quem Ele era, como no caso do cego de nascença (Jo IX, 35-38) ou do paralítico da piscina de Betesda (Jo V, 12-13). E os mortos que Cristo ressuscitou dificilmente poderiam ser sugestionados!
      Não houve nenhuma Campanha publicitária de "curas" e nenhum anúncio de tais demonstrações. Cristo até proibia que os agraciados publicassem sua cura, porque advertia o perigo de que os interesses egoístas do povo quisessem desviar sua Missão para o lado utilitarista da cura e outras vantagens meramente humanas.
      Assim, por exemplo, após ressuscitar a menina de doze anos, filha de Jairo, "ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse"; (Mc V, 43) após curar um surdo-mudo, "proibiu-lhes que o dissessem a alguém"; (Mc VII, 36) após curar dois cegos, recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba", etc. (Mt IX, 30)
      Os Milagres que Cristo fazia eram exclusivamente para confirmar sua Doutrina, para que os homens, "por causa das obras", cressem Nela como revelada por Deus. Cristo não fez milagres para substituir ou completar a medicina, como é a pretensão de todos os curandeiros. É bem esclarecedora sua frase: "Não são os que estão bem que precisam do médico, mas sim os doentes".
      Há em Jerusalém, perto do pórtico das abelhas, um tanque, chamado em hebraico "Betesda" e que tem cinco pórticos. Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água. Pois, segundo se dizia, em tempos, um anjo do Senhor descia ao tanque e a água se punha em movimento, e o primeiro que entrasse no tanque, depois da agitação da água, ficaria curado de qualquer doença que tivesse. Estava ali um homem, enfermo havia 38 anos. Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava enfermo, perguntou-lhe Jesus: "Queres ficar curado? O enfermo respondeu-lhe: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque quando a água é agitada. Enquanto vem, já alguém desceu antes de mim". Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda". No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e foi andando".(Jo V, 2-9)
      Nenhuma semelhança com o curandeirismo. Como nos Santuários Cristãos, uma pessoa curada basta para confirmar a Doutrina Revelada e manter a Fé. Cristo não se dirigiu a todos: dentre aquele "grande número", curou a um único doente. E nada de diagnósticos, nem de explicações pormenorizadas da doença e nem excitações de emotividade histérica. Era manifesta a Fé sobrenatural daquele homem que há 38 anos esperava lá a intervenção divina e por isso cristo nem sequer lhe perguntou algo sobre sua fé em Deus; simplesmente deu-lhe a ordem de caminhar...
      Concluindo: Nos tempos antigos como nos tempos modernos, a "cura" dos curandeiros (sugestão) responde fundamentalmente aos mesmos truques e às mesmas técnicas: além de ser anticientífico, é desaconselhável e perigosíssima. A "cura" sugestionada dos curandeiros é responsável pela multiplicação de doenças psíquicas e o ambiente doentio da superstição.
      Pretender identificar tal curandeirismo com as curas (Milagres) para confirmar a Fé realizadas por Cristo, pela intercessão dos santos e nos Santuários Católicos é manifesta miopia e cegueira.

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