quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos no Vaticano, Cardeal Robert Sarah, proferiu a conferência inaugural do evento Sacra Liturgia UK 2016, que aconteceu em Londres entre os dias 5 e 8 de julho.
http://www.cursoscatolicos.com.br/2012/03/curso-passos-para-uma-reforma-liturgica.html
O discurso não é longo; recomendamos sua leitura na íntegra aqui: http://www.movimentoliturgico.org/discurso-na-integra-do-cardeal-sarah/
A intenção do Cardeal, conforme expõe no discurso, é propor "considerações sobre como a Igreja Ocidental pode caminhar rumo a uma implementação mais fiel da Sacrosanctum Concilium". Isso significa - é óbvio - que as reformas litúrgicas desejadas pelo Concílio Vaticano II (1962-65) não foram satisfatoriamente implementadas.
Um efeito colateral da reforma litúrgica oficial (a dos documentos) foi a deformação litúrgica na prática. Constata o Cardeal que:
"em décadas recentes temos visto muitas celebrações litúrgicas onde o povo, personalidades e conquistas humanas têm sido proeminentes demais, quase ao ponto da exclusão de Deus."
 E é da volta da centralidade de Deus na liturgia que trata o discurso. Para isso, o Cardeal Sarah propõe, além da conversão interior, algumas práticas externas que ajudariam a nortear a liturgia.
Foram estas sugestões - que não são mudanças na liturgia oficial, pois já estão previstas no Missal - que tiveram grande repercussão na imprensa, dando a entender a alguns que haveriam mudanças obrigatórias.
Tal foi o rebuliço que a Sala de Imprensa do Vaticano emitiu comunicado, corrigindo algumas interpretações, basicamente esclarecendo que não há nenhuma mudança, mas gerando outras confusões, que não vem ao caso, devido a algumas palavras/opiniões do Pe. Lombardi (que deixa o cargo de porta-voz no dia 1º/8/2016).

Enfim, reiteramos que seja lida a transcrição da conferência, bela e clara. Abaixo destacamos alguns trechos e também indicamos o vídeo com a opinião do prof. Michel Pagiossi e os esclarecimentos do Pe. José Eduardo.
As sugestões do Cardeal Sarah não são nenhuma novidade; tanto que já sugerimos as mesmas coisas desde 2010 no livro "A reforma litúrgica de Bento XVI: Passo-a-passo para a comunidade" e no curso online "Passos para uma reforma litúrgica local".
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"Deus, não o homem, está no centro da liturgia católica. Viemos adorá-lo. A liturgia não é sobre você e eu; não é onde celebramos nossa própria identidade ou conquistas ou onde exaltamos ou promovemos nossa própria cultura e costumes religiosos locais."

"É essencial que compreendamos esta especificidade do culto católico, pois em décadas recentes temos visto muitas celebrações litúrgicas onde o povo, personalidades e conquistas humanas têm sido proeminentes demais, quase ao ponto da exclusão de Deus. Como o Cardeal Ratzinger escreveu uma vez: “Se a liturgia aparece antes de tudo como uma oficina (um workshop) para nossa atividade, então aquilo que é essencial foi esquecido: Deus. Pois a liturgia não é sobre nós, mas sobre Deus. Esquecer Deus é o perigo mais iminentes de nossa era”.

"Eu sou africano. Deixem-me dizê-lo claramente: a liturgia não é o lugar de promover minha cultura. Melhor, é o lugar onde minha cultura é batizada, onde minha cultura é levada para o divino. Através da liturgia da Igreja (que os missionários levaram por todo o mundo) Deus fala a nós, muda-nos e torna-nos capazes de participar de sua vida divina."

"Mas da minha experiência eu também sei – agora também através do meu serviço como Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos – que há muitas distorções da liturgia em toda a Igreja hoje, e que há muitas situações que poderiam ser melhoradas para se alcançar as metas do Concílio."

"às vezes transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa." (São João Paulo II)

"Podemos ter construído uma muito nova e moderna liturgia em vernáculo, mas se não lançamos os fundamentos corretos, se nossos seminaristas e clérigos não estão “imbuídos plenamente do espírito e da virtude da liturgia” como o Concílio pediu, então eles não podem formar o povo confiado a seu cuidado. "

"Eis por que aqueles que estão “em formação” para o ministério pastoral devem viver a liturgia tão plenamente possível em seus seminários e casas de formação. Candidatos ao diaconato permanente deveriam também ter uma imersão numa intensa vida litúrgica por um período prolongado. E, acrescento, que a plena e rica celebração do uso mais antigo do Rito Romano, o usus antiquor, possa ser uma parte importante da formação litúrgica para o clero, pois como podemos compreender ou celebrar os ritos reformados com uma hermenêutica de continuidade se nunca experimentamos a beleza da tradição litúrgica que os próprios Padres do Concílio conheceram?"

"Se entendemos a prioridade de internalizar nossa participação litúrgica evitaremos o ativismo litúrgico perigoso e barulhento que tem sido tão proeminente em décadas recentes. Não vamos para a liturgia para apresentar algo, fazer coisas para os outros verem: nós vamos para estar conectados com a ação de Cristo por meio de uma internalização dos ritos, orações, sinais e símbolos litúrgicos externos."

"De fato, posso dizer que quando fui recebido em audiência pelo Santo Padre em abril passado, o Papa Francisco pediu-me para estudar a questão de uma reforma da reforma e de como enriquecer as duas formas do Rito Romano. Será um trabalho delicado e peço a paciência e as orações de vocês."

"Devemos lembrar que não somos os autores da liturgia, somos seus humildes ministros, sujeitos à sua disciplina e suas leis. Também somos responsáveis por formar aqueles que nos assistem em ministérios litúrgicos tanto no espírito como na virtude da liturgia e também em suas regras. Algumas vezes tenho visto sacerdotes ficarem de lado para deixar ministros extraordinários distribuírem a Sagrada Comunhão: isto está errado, é uma negação do ministério sacerdotal bem como uma clericalização dos leigos. Quando isso acontece é um sinal de que a formação aconteceu de forma muito errada e que precisa ser corrigida."

"Quero fazer um apelo a todos os sacerdotes. Vocês podem ter lido meu artigo em L’Osservatore Romano há um ano atrás (12/06/2015) ou minha entrevista com o jornal Famille Chrétienne em maio deste ano. Em ambas as ocasiões eu disse que creio ser muito importante que retornemos o quanto antes possível para uma comum orientação, dos sacerdotes e fiéis voltados juntos na mesma direção – para o oriente ou pelo menos para a abside – para o Senhor que vem, naquelas partes dos ritos litúrgicos em que estamos nos dirigindo a Deus. Esta prática é permitida pela legislação litúrgica corrente. É perfeitamente legítima no rito moderno. De fato, penso ser isto um passo muito importante para assegurar que em nossas celebrações o Senhor esteja verdadeiramente no centro." (veja aqui como fazer)

"Neste ponto, repito o que eu disse noutra ocasião, que o Papa Francisco pediu-me para continuar a obra litúrgica iniciada pelo Papa Bento (cf. mensagem para o Sacra Liturgia USA 2015, Nova Iorque). Só porque temos um novo papa não significa que a visão de seu predecessor agora é inválida. Pelo contrário, como sabemos, nosso Santo Padre, o Papa Francisco, tem o maior respeito pela visão litúrgica e pelas medidas que o Papa Bento implementou em total fidelidade às intenções e metas dos Padres Conciliares."

"devemos cantar a liturgia, devemos cantar os textos litúrgicos, respeitando as tradições litúrgicas da Igreja e regozijando no tesouro da música sacra que é nosso, mais especialmente aquela música própria do Rito Romano, o canto gregoriano. Devemos cantar a música litúrgica sagrada, não meramente música religiosa, ou pior, canções profanas."

"Devemos fazer o justo equilíbrio entre as línguas vernáculas e o uso do latim na liturgia. O Concílio nunca quis que o Rito Romano fosse exclusivamente celebrado em vernáculo. Mas quis permitir um aumento do seu uso, particularmente para as leituras. Hoje seria possível, especialmente com os modernos meios de impressão, facilitar a compreensão de todos quando o latim for usado, talvez na Liturgia Eucarística".

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Curso "Passos para uma reforma litúrgica local":
http://www.cursoscatolicos.com.br/2012/03/curso-passos-para-uma-reforma-liturgica.html
Curso de Canto Gregoriano:
http://www.cursoscatolicos.com.br/2014/05/curso-de-canto-gregoriano.html
Curso de Latim:
http://www.cursoscatolicos.com.br/2014/05/curso-de-canto-gregoriano.html
            

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Extraído do Curso online "Passos para uma reforma litúrgica local" 


 Há quem ache que o Concílio Vaticano II modificou a posição do altar e do sacerdote em relação ao povo, proibindo a prática anterior dos altares na parede e da celebração “de costas” para o povo. A questão toda começa com a norma da IGMR que diz: “Onde for possível, o altar principal deve ser construído afastado da parede, de modo a permitir andar em volta dele e celebrar a Missa de frente para o povo.” A expressão “onde for possível” claramente diz não tratar-se de uma obrigação, mas assim foi entendido na prática por muitos padres e bispos.
O mesmo Missal continua a desmentir essa interpretação quando encontramos nele algumas rubricas que dizem que o sacerdote deve, em alguns momentos, “ voltar-se para o povo”; isto significa que, se deve voltar-se ao povo, é porque antes não estava voltado para o povo. Também é esta orientação espacial “versus Deum” que se tem em conta quando se diz à direita ou à esquerda do altar. Voltados ao Oriente
A forma histórica de oferecimento da Missa, observada inclusive pelos ritos orientais, é “ad Orientem”, voltados para o Oriente, que é Cristo, ou “versus Deum”. Litúrgica e teologicamente, o sacerdote voltado para o Altar não dá as costas para o povo, ao contrário, ele volta-se como o primeiro dentre os fiéis para oferecer o Sacrifício a Deus pelo povo.
Celebrar ad orientem, como a Igreja fez por séculos, não está proibido, e expressa a centralidade de Deus no culto litúrgico, não a centralidade de uma padre a conversar com o povo. É com este espírito que Bento XVI liberou para toda a Igreja a celebração da Santa Missa na forma antiga, e tem celebrado, sempre que possível, ad orientem.

Veja também: Cardeal Sarah propõe importante mudança para a Missa a partir do Advento 2016

 Dom Mauro Gagliardi dá indicações práticas para reaver a centralidade de Deus no culto: “Se, portanto, o uso da celebração versus populum tem certos aspectos positivos, deve-se, todavia, reconhecer também as suas limitações: em particular o risco de criar um círculo fechado entre o ministro e os fiéis, que relega a segundo plano logo Aquele para quem todos devem olhar com fé durante o culto litúrgico. É possível ir contra os riscos fazendo voltar à oração liturgica a sua orientação, particularmente quanto à Liturgia Eucarística. Enquanto a Liturgia da Palavra tem sua forma mais apropriada com o sacerdote voltado para o povo, parece pastoral e teologicamente mais apropriado usar a opção – reconhecida pelo missal de Paulo VI em suas várias edições – de continuar a celebrar a Eucaristia voltado para o Crucificado. Isto pode ser feito, na prática, de vários modos, inclusive colocando a imagem do Crucificado no centro do altar da celebração versus populum, de modo que todos, sacerdote e fiéis, possam olhar para o Senhor durante a celebração de seu Santo Sacrifício.”
Deve-se estudar prudentemente a oportunidade de se celebrar ad Orientem, que deve ser acompanhada de catequese. Pode ocorrer também que o espaço físico não permita esta disposição. Nestes casos de impossibilidade, o crucifixo no centro do altar e a disposição do olhar, refletindo a da alma, garantirão a centralidade de Deus no culto.

Passo a passo:

Onde for adotada a Missa versus Deum, eis o modo de celebrar, segundo o atual Missal Romano:
1. Depois da entrada, o sacerdote vai para a Cadeira, de lá celebra, voltado para o povo, do Sinal da Cruz até a Oração do dia.
2. Terminado os ritos iniciais, todos se sentam. As leituras são proclamadas do ambão. A homilia é feita do ambão ou da cadeira.
3. Da cadeira o sacerdote preside a Profissão de fé e a Oração Universal ou dos fiéis.
4. O sacerdote senta-se enquanto o diácono ou acólito prepara o altar. Se há procissão, o sacerdote recebe os dons e repassa a seu ajudante.
5. O sacerdote volta-se ao Altar com a devida reverência e conclui as oferendas.
6. Voltando-se para os fiéis, diz “Orai irmãos e irmãs...” e depois da resposta volta-se ao Altar, e assim permanece.
7. Nas elevações do Corpo e do Sangue, o sacerdote eleva acima da cabeça, para que os fiéis vejam.
8. Após genuflectir, o sacerdote volta-se para o povo e diz “Eis o mistério da fé” a que o povo responde com a fórmula prevista. Volta-se ao Altar e continua assim até “Eis o Cordeiro de Deus...”, quando apresenta ao povo o Pão Eucarístico fracionado.
9. A oração após a Comunhão pode ser feita da Cadeira ou voltado para o Altar.
10. A bênção final é dada voltado para o povo.
Resumindo:
- O sacerdote volta-se para o altar a partir da bênção das oferendas e só se dirige aos fiéis:
1. Na oração “Orai irmãos...”
2. Na aclamação “Eis o mistério da fé”
3. Para saudar com a paz alguns dos presentes, sem sair do presbitério.
4. Na apresentação do Pão fracionado “Eis o Cordeiro de Deus...”
5. Para distribuir a Santa Comunhão
6. Para dar a bênção final.
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http://loja.cursoscatolicos.com.br/index.php?route=product/product&product_id=73

terça-feira, 26 de abril de 2016

Extraído de: http://www.paginaoriente.com/catecismo/cruzad.htm
 
ORIGEM DAS CRUZADAS 

As guerras entre os países de religião ocidental e  os ocupantes muçulmanos na Terra Santa, principalmente em decorrência da ocupação  dos lugares de veneração dos cristãos  remontam ao século VII  com a ocupação dos maometanos e, mais tarde, os turcos (século XI) que dominaram a região. A princípio oito batalhas, denominadas cruzadas, estenderam-se de 1095 a 1270, se bem  que após esse período, durante muito tempo foram outras organizadas, porém, com características diferentes das Cruzadas primitivas.

Os cristãos na Palestina sempre haviam sido tratados com hospitalidade  pelos  muçulmanos. Os árabes também consideravam Jerusalém  uma cidade respeitável e Jesus, segundo eles, simplesmente um  dos profetas  que haviam precedido Maomé.  Quando Al-Hakim,  o califa louco do Cairo, destruiu a  igreja do Santo Sepulcro (1010), os próprios maometanos contribuíram substancialmente para a sua restauração.

 Entretanto, com o avanço dos turcos  modificou-se completamente a situação.  Em 1070 os turcos haviam tomado Jerusalém aos árabes e  começaram então as  perseguições e profanações que os peregrinos narravam com cores vivas no Ocidente. 

Nessa época,  um piedoso peregrino chamado Pedro d'Amiens, ao retornar da Terra Santa, foi ter com o Papa Urbano II a fim de descrever-lhe os vexames dos cristãos na Palestina e  profanação dos lugares santos pelos infiéis. Por este motivo, o Papa convocou o concílio de Clermont (1095), ao qual compareceram  muitos príncipes do Ocidente.   Lá compareceu também Pedro d'Amiens e expôs com tal emoção a triste situação do país de Cristo que todos os circunstantes,  em lágrimas,  romperam num grito uníssono de fé e coragem: "Deus o quer! Deus o quer! ". O Ocidente em peso pôs-se em movimento  para libertar do poder dos turcos a Terra Santa. 

Ocorre que antes  da definição e concretização das metas,  Pedro, o Eremita e um cavaleiro intitulado Gauthier Sans-Avoir (Valter Sem Tostão),  anteciparam-se aos planos do Papa Urbano II e partiram para o Oriente  com uma massa de 17.000 pessoas ignorantes, pobremente equipadas e sem nenhuma experiência militar.  Foi um movimento paralelo e independente que partiu em direção à Nicéia sem o prévio consentimento do Papa, sob a denominação "cruzada do povo".  Após uma travessia caracterizada por roubos, violências e  epidemias, foram  completamente trucidados pelos  turcos quando atacaram aquela cidade. Por isto,  não considera-se este movimento como a primeira cruzada, que teve  seu início em 1096, portanto, no ano seguinte. 

 1ª. Cruzada 

A primeira  das cruzadas  partiu em 1096 e teve seu término em 1099. Os maiores  nomes da cristandade feudal nela figuravam, predominando franceses e normandos. Sob o comando de Godofredo de Buillon seguiram para Constantinopla. Os muçulmanos achavam-se divididos e os cruzados  tomaram facilmente Antioquia. Durante um período de três anos, após  renhidas batalhas, no dia  15 de julho de 1099, numa Sexta-Feira Santa,  os cruzados  tomaram Jerusalém. Por causa de sua coragem e piedade, os chefes dos exércitos o elegeram rei de Jerusalém. Conduziram-no à igreja do Santo Sepulcro, onde o aclamaram solenemente. Quando, porém,  lhe ofereceram a  coroa real, o duque  recusou-se a aceitá-la e disse: "Não permita Deus que eu cinja um diadema de  ouro no mesmo local em que o Rei dos reis foi coroado de espinhos".  Com  a  finalidade  de  defesa  foram criadas  ordens  militares-religiosas, como a  dos Hospitalários ou Cavaleiros de São João, a dos  Templários  e  a  dos Cavaleiros  Teutônicos, tendo o novo reino subsistido por quase  cem anos.  

 2ª. Cruzada 

Saladino, um aventureiro curdo, tornou-se  sultão do Egito e reunindo os esforços do Egito aos de Bagdá, fez a pregação de uma guerra santa muçulmana  contra os cristãos. A contra-cruzada de Saladino atingiu seu objetivo precisamente em 1187, quando Jerusalém foi retomada. Esse fato suscitou a terceira cruzada, denominada "Cruzada dos Reis". 

 3ª. Cruzada ("Cruzada dos Reis") 

A Cruzada dos Reis foi chefiada por  Frederico I (Frederico Barba Ruiva), imperador do Sacro Império Romano Germânico, Felipe Augusto, rei da França e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra,os quais  não obtiveram êxito.  Frederico I morreu afogado no rio Selef, na Cicília. Felipe Augusto regressou logo, tendo perdido quase  todas as suas tropas e Ricardo Coração de Leão ficou na Palestina tentando em vão tomar Jerusalém. 
Esta terceira cruzada, contudo, marcou uma  importante transformação nas relações entre cristãos e muçulmanos. Ricardo Coração de Leão firmou com Saladino um tratado, mediante o qual este reconhecia aos cristãos o domínio de uma  faixa costeira  na Síria e permitia o livre acesso dos peregrinos a Jerusalém. 

 4ª.  Cruzada ("Cruzada Veneziana") 

A quarta  cruzada foi preparada por Inocêncio III, o grande Papa da Idade Média. Os franceses, principalmente,  acudiram ao apelo do Pontífice. Mas os planos do Papa, de atacar o Egito e  depois a Palestina, foram completamente deturpados pela influência de Veneza. A rica cidade italiana  exigiu 85.000 marcos de  prata para transportar os cruzados. Como não se conseguiu a quantia pedida, foi proposto um acordo pelos venezianos, no qual os cruzados os ajudariam a tomar a  cidade de Zara (hoje Zadar - Iuguslávia), no Adriático, cuja prosperidade  preocupava seriamente Veneza.  Contra a  opinião do Papa, o acordo foi feito e Zara saqueada. Em seguida os venezianos  sugeriram um ataque a Constantinopla, pois não lhes interessava  uma guerra contra os muçulmanos com os quais  comerciavam intensamente. 

Aproveitando-se  das lutas  internas pelo trono bizantino, os cruzados, apesar da oposição de Inocêncio III, dirigiram-se  com uma frota de  480 navios para Constantinopla.  A quarta cruzada transformou-se, assim,  em intrigas e rivalidades entre os príncipes cristãos , fazendo com que os santos lugares  caíssem no poder dos infiéis. Além disto, Constantinopla foi saqueada  totalmente, parcialmente destruída e, em meio à pilhagem, preciosos manuscritos foram inutilizados ou perdidos e  milhares de obras-primas foram roubadas, mutiladas ou esfaceladas. 

 5ª.  e 6ª. Cruzadas 

A quinta cruzada dirigida por André II da Hungria, não teve grande importância histórica.  A sexta, no entanto, comandada por Frederico II, alcançou a Palestina. Frederico II, como havia sido excomungado, não recebeu cooperação cristã. Por ter  conhecimentos em ciência e filosofia árabes, acabou entendendo-se amistosamente com o sultão Al-Kamil,  ocasião em que assinaram um tratado mediante o qual o Islã cedia aos cristãos Acre, Jafa, Sidon, Nazaré, Belém e toda a Jerusalém. 

 7ª e 8ª Cruzadas  

A sétima e oitava  cruzadas foram empreendidas  por Luís IX (São Luís), rei da França. Na sétima cruzada  foi ocupada a  cidade de Damieta, mas logo em seguida  foi feito prisioneiro o bom rei francês, tendo sido  obrigado a pagar pesado resgate. Em 1270 empreendeu uma expedição a Túnis (8ª. Cruzada), onde faleceu, vítima de uma epidemia. 

<> Consequência sociais e  religiosas das Cruzadas <>

Os efeitos  das  cruzadas  sobre a vida econômica e social da Europa constituem pontos de divergência entre os modernos historiadores. Não se pode afirmar que as Cruzadas tenham ocasionado a ruína do feudalismo. A desintegração feudal era um processo já em evolução e para ele talvez tenha  contribuido mais  a  peste negra (que matou um terço da população européia) do que as Cruzadas.  Todavia, as Cruzadas  apressaram a emancipação do povo. Muitos camponeses aproveitaram-se da  ausência de seus  senhores para libertarem-se da escravidão. 

Ademais, os grandes  centros da civilização sarracena não eram Jerusalém e Antioquia, mas sim Bagdá , Damasco, Toledo e Córdoba, não visados pelas expedições cristãs.  Contudo, foi sensível o incremento do comércio oriental. A prosperidade de  cidades  comerciais  italianas que substituíram Constantinopla como mediadora entre o comércio do Oriente e do Ocidente, foi paralela ao impulso recebido pela economia monetária da Europa. 

É inegável que as Cruzadas estimularam o interesse pelas  explorações e descobrimentos. Marcaram sem dúvida, o começo da expansão da  fronteira  européia. 

Paralelamente, no campo religioso, as fronteiras excitaram em todo o  oriente nova vida  e expansão de ordens  religiosas.  Devido às  invasões  dos povos bárbaros, as ciências por longo tempo se haviam refugiado nos conventos; então, porém, recomeçavam a  espalhar-se  entre o povo.  Fundaram-se  universidades e escolas, como em Paris  e Colônia, cujas  cátedras eram ocupadas por homens  distintos e  de vasto saber:  Santo Anselmo, 1109;   Alexandre de Hales,  1245;  Santo Alberto Magno, 1280;  São Tomaz de Aquino, padroeiro das escolas Católicas, 1274;  São Boaventura, 1274;  Venerável Duns Escoto, o "Doutor Franciscano", 1308. 

Mais de dois milhões de homens aí sacrificaram  suas vidas.  Tantos sacrifícios não eram vãos, pois grandes benefícios decorreram dessas cruzadas, para toda a  sociedade. Também destaca-se  a fundação de ordens religiosas militares:  A Ordem dos Cavaleiros de São João e a dos Cavaleiros Teutônicos, como mencionamos no início, que tinham por fim aliviar os sofrimentos dos cristãos no oriente e  combater os sarracenos. 

As principais  ordens  monásticas fundadas  durante esta  época são:  a dos camaldulenses, por São Romualdo (1037); dos cartuchos, por São Bruno (1101); dos premonstratenses, por São Norberto (1134); dos cistercienses, por São Roberto e São Bernardo (1153); dos carmelitas, pelo b. Alberto (1214);  e  dos franciscanos, por São Francisco de Assis (1226). 

Em toda a parte floresceu a santa religião. Os fiéis construíram catedrais magníficas, que ainda hoje causam  admiração e a fundação dessas e outras ordens religiosas dava à Igreja um brilho especial. Grande é o número de santos que estas ordens contam em seu grêmio. A toda a parte do mundo mandaram seus missionários, para pregarem o Evangelho.    

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Na política, o católico, e quem acredite no Evangelho, deve estar bem ciente dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja, que devem servir de pauta à sociedade, baseados na lei natural e na busca do bem comum, e ver se os seus candidatos adotam esses princípios (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”). 
1º. Subordinação da ordem social à ordem moral estabelecida por Deus:
“A solução dos graves problemas nacionais e internacionais não é apenas uma questão de produção econômica ou de uma organização jurídica ou social, mas requer valores ético-religiosos específicos, bem como mudanças de mentalidade, de comportamento e de estruturas” (João Paulo II, Centesimus annus 60).
“Aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do último século, erro destrutivo, como demonstram os resultados tanto dos sistemas marxistas como inclusive dos capitalistas. Falsificam o conceito de realidade com a amputação da realidade fundante, e por isso decisiva, que é Deus. Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito de ‘realidade’ e, em conseqüência, só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas” (Bento XVI, Discurso inicial em Aparecida, 3). 
À luz da doutrina cristã, todos são pessoas, porque igualmente criados à imagem e semelhança de Deus e remidos pelo sacrifício de Jesus Cristo: qualquer ser humano passou a ser pessoa através das idéias cristãs do amor fraterno e da igualdade perante Deus. O bem de cada pessoa e de todos em comum está acima dos interesses de grupos, de indivíduos, da economia, e de todos os outros seres. O homem é o ápice da criação de Deus e é administrador de todas as realidades do mundo.
Solidariedade aqui é sinônimo de “amizade” (Leão XIII), “caridade social” (Pio XI) e “civilização do amor” (Paulo VI).
“O homem deve contribuir, com seus semelhantes, para o bem comum da sociedade, em todos os seus níveis. Sob este ângulo, a doutrina da Igreja opõe-se a todas as formas de individualismo social ou político” (CDF, Nota Doutrinal acima citada) 
4º. A busca do bem comum 
Ou seja, “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (Gaudium et Spes, 26).
5º. A opção preferencial pelos pobres:

“O Estado, na proteção dos direitos particulares, deve preocupar-se, de maneira especial, dos fracos e dos indigentes. A classe rica tem menos necessidade da tutela pública. A classe indigente, ao contrário, sem riquezas que a ponham a coberto das injustiças, conta principalmente com a proteção do Estado. Que o Estado se faça, pois, sob um particularíssimo título, a providência dos trabalhadores, que em geral pertencem à classe pobre” (Leão XIII, Rerum Novarum 20). 
6º. Não ao império do dinheiro, à tendência de “converter o lucro em valor supremo” (Bento XVI,Discurso inicial em Aparecida, 2), posto acima da moral. Não, portanto, ao “capitalismo selvagem”. Sim ao capitalismo sadio: sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, da propriedade privada, da responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana: economia de mercado
7º. Não ao socialismo
“Os cristãos, hoje em dia, sentem-se atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas evoluções… contudo, tal corrente foi e continua a ser, ... incompatível com a fé cristã” (Paulo VI, Octogesima Adveniens, 31).
“Podem resumir sua teoria nesta fórmula única: a abolição da propriedade privada” (Manifesto do Partido Comunista, pp 62 e 38 – Marx e Engels).
“O socialismo, como doutrina ou fato histórico ou ação, se é verdadeiro socialismo, não pode conciliar-se com a doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã” (Pio XI, Quadragesimo Anno, 117). 
 Portanto, nenhum partido socialista ou comunista deve ser votado por um cristão. Saiba mais:
8º. Subsidiariedade ou ação subsidiária do Estado, que não absorva a iniciativa das famílias e dos indivíduos.
Baseado no princípio de que o homem é anterior ao Estado e que a sociedade doméstica tem sobre a sociedade civil uma prioridade lógica e uma prioridade real, Pio XI ensina: 
“Assim como é injusto subtrair aos indivíduos o que eles podem fazer com a própria iniciativa para confiá-lo à coletividade, do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e inferiores poderiam conseguir é uma injustiça, um grave dano e perturbação da boa ordem social”.
“Não é justo que o indivíduo ou a família sejam absorvidos pelo Estado” (Leão XIII, Rerum Novarum, 52). 
Que as famílias possam ter iniciativa privada, por exemplo, para construir creches e escolas, sem que o Estado possa interferir, mas sim, subsidiar. Que haja, pois, da parte do Estado, incentivo e subsídio à iniciativa privada na geração de empregos e na educação.   
Nem, portanto, o Estado gigante do socialismo, nem o Estado raquítico do libertarianismo. Nem o Estado onipresente, nem o Estado omisso. A expressão “Estado forte” pode muitas vezes clamufar o significado de um Estado gigante, que não adota o princípio da subsidiariedade. Governos, tanto federais, como estaduais e municipais, que detêm a maioria dos empregos na sociedade, onde a maioria vive em função do governo e dele dependente, são realmente Estados gigantes que não adotam o princípio da subsidiariedade. 
9º. Prioridade do trabalho sobre o capital

“Ambos têm necessidade um do outro: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital” (Leão XIII, Rerum Novarum, 28).
“O trabalho é causa eficiente primária, o capital é um instrumento ou causa instrumental”.
“É preciso acentuar o primado do homem no processo de produção, o primado do homem em relação às coisas” (João Paulo II, Laborem exercens, 12). 
10º. Destinação universal dos bens, sem prejuízo do direito de propriedade privada.
“O direito à propriedade privada está subordinado ao direito ao uso comum, subordinado à destinação universal dos bens” (João Paulo II, Laborem exercens, 19).   
Destinação e uso universal não significam que tudo esteja à disposição de cada um ou de todos, e nem mesmo que a mesma coisa sirva ou pertença a cada um ou a todos, mas que todo o homem deve ter a possibilidade de usufruir do bem-estar necessário para o seu pleno desenvolvimento
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quinta-feira, 31 de março de 2016

Para incentivar a prática desta evangélica devoção, disponibilizamos os textos e arquivos de áudio das orações do Angelus/Regina Coeli.
Dica: grave no seu aparelho para despertar!


Angelus
O Angelus (e o Regina Coeli, no Tempo Pascal) é uma oração muito antiga que faz memória da Anunciação do Anjo Gabriel à Nossa Senhora. É costume rezá-lo às 6h, 12h e 18h. Quem não puder guardar este horário, pode rezá-lo ao levantar, na hora do almoço e ao deitar.

Baixe o áudio:
Cantado em latim / Rezado em latim (Bento XVI) / Rezado em português


V/ Angelus Dómini nuntiávit Mariæ
R/ Et concépit de Spíritu Sancto.
Ave Maria grátia plena Dóminus tecum, benedícta tu in muliéribus et benedictus fructus ventris tui, Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatóribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amém.
V/ Ecce ancílla Dómini
R/ Fiat mihi secúndum verbum tuum.
Ave Maria.
V/ Et Verbum caro factum est
R/ Et habitávit in nobis.
Ave Maria.
V/ Ora pro nobis, sancta Dei Génitrix
R/ Ut digni efficiámur promissiónibus Christi.
Oremus.  Gratiam tuam, quæsumus Dómine, méntibus nostris infúnde: ut qui Angelo nuntiánte, Christi Filii tui incarnatioónem cognóvimus; per passiónem ejus et crucem, ad resurrectiónis glóriam perducámur. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum. Amém.

Se recita o Glória, inclinando-se:
GLORIA PATRI, et Filio, et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum. Amen.

Em português
V/ O Anjo do Senhor anunciou a Maria,
R/ E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria.
V/ Eis a escrava do Senhor.
R/ Faça-se em mim segundo a Vossa palavra.
Ave Maria.
V/ E o Verbo se fez Carne,
R/ E habitou entre nós.
Ave Maria.
V/ Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
R/ Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Oremos.  Infundi, Senhor, em nossas almas a Vossa graça, para que nós, que conhecemos, pela Anunciação do Anjo, a Encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, cheguemos, por sua Paixão e morte na cruz, à glória da Ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.



Regina Caeli
O Regina Caeli substitui o Angelus durante o Tempo Pascal e recita-se, em público, sempre de pé.
 R/ Regína Cæli, lætáre, alleluia;
V/ Quia quem meruísti portáre, alleluia;
R/ Resurréxit, sicut dixit, alleluia;
V/ Ora pro nóbis Deum, alleluia.
V/ Gaude et lætáre, Virgo Maria, alleluia.
R/ Quia surréxit Dóminus vere, alleluia.
Oremus.  Deus, qui per resurrectiónem Filii tui Dómini nostri Jesu Christi mundum lætificáre dignátus es: præsta, quæsumus; ut, per ejus Genitrícem Vírginem Mariam, perpétuæ capiámus gáudia vitæ. Per eumdem Christum, Dóminum nostrum. Amém.

Em português
R/ Rainha do Céu, alegrai-Vos, aleluia.
V/ Porque aquele que merecestes trazer no seio, aleluia,
R/ Ressuscitou como disse, aleluia.
V/ Rogai por nós a Deus, aleluia.
R/ Exultai e alegrai-Vos, ó Virgem Maria, aleluia.
V/ Pois o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.
Oremos.  Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo pela Ressurreição do Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, fazei, por intercessão da Virgem Maria, sua Mãe Santíssima, que sejamos admitidos nas alegrias da vida eterna. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.



Oração pelos fiéis defuntos e bênção:
V. Pro fidelibus defunctis réquiem aeterna dona eis Domine
R. et lux perpetua luceat eis. 
V. Requiéscant in pace. R. Amen.

V. Sit nomen Domini benedictum. / R. Ex hoc nunc et usque in saeculum
V. Adjutorium nostrum in nomine Domini. / R. Qui fecit caelum et terram.
V. Benedicat vos omnipotens Deus, + Pater, + et Filius, + et Spiritus Sanctus. / R. Amen

segunda-feira, 21 de março de 2016



07-12-2005
http://www.zenit.org/article-9674?l=portuguese
Entrevista com o professor Rafael Pascual, L.C.
ROMA, quarta-feira, 7 de dezembro de 2005 (ZENIT.org).- «Evolução e criação podem ser compatíveis», reconhece o filósofo e teólogo Rafael Pascual, L.C, até o ponto de que fala de «criação evolutiva», declarando que a «Bíblia não tem uma finalidade científica».
O debate sobre evolução e fé é candente no cenário mundial. Voltou a ser suscitado pelo arcebispo de Viena, o cardeal Cristoph Schonborn, com um artigo publicado pelo «New York Times», em 7 de julho de 2005, onde afirmava que é Deus, através de um «desígnio inteligente, o verdadeiro artífice da evolução».
«As teorias científicas que tentam justificar a aparição do desígnio como resultado do caos e da necessidade não são verdadeiramente científicas», acrescentava o purpurado austríaco.
Para compreender melhor esta apaixonante questão, Zenit entrevistou o professor Pascual, diretor do Mestrado em Ciência e Fé do Ateneu Pontifício «Regina Apostolorum» de Roma, que na Itália acaba de publicar o livro «Evolução: cruz de caminhos entre ciência, filosofia e teologia» («L’Evoluzione: crocevia di scienza, filosofia e teologia», Editora Studium).
http://loja.cursoscatolicos.com.br

--Evolução, sim; evolucionismo, não?

--Padre Pascual: A evolução, entendida como teoria científica, fundada em dados empíricos, parece muito bem afirmada, ainda que não é totalmente verdade que já não tenha nada a acrescentar ou completar, sobretudo com respeito aos mecanismos que a regulam. Ao contrário, não me parece admissível o evolucionismo como ideologia que nega o finalismo, e sustenta que tudo se deve à casualidade e à necessidade, como afirma Jacques Monod em seu livro «Casualidade e necessidade», propondo o materialismo ateu. Este evolucionismo não é sustentável, nem como verdade científica, nem como conseqüência necessária da teoria científica da evolução, como alguns sustentam.
--Criação sim; criacionismo, não?
--Padre Pascual: A criação é uma verdade compreensível para a razão, em especial para a filosofia, mas também é uma verdade revelada. Por outro lado, o chamado criacionismo é também, como o evolucionismo, uma ideologia fundada em muitas ocasiões em uma teologia errônea, ou seja, em uma interpretação literal de algumas passagens da Bíblia, a qual, segundo seus autores, com respeito à origem das espécies sustentaria a criação imediata de cada espécie por parte de Deus, e a imutabilidade de cada espécie com o passar do tempo.
--Evolução e criação são compatíveis?
--Padre Pascual: Evolução e criação em si podem ser compatíveis; pode-se falar, sem cair em uma contradição, de uma «criação evolutiva», enquanto que evolucionismo e criacionismo são necessariamente incompatíveis.
Por outra parte, seguramente houve um desígnio inteligente, mas, em minha opinião, não se trata de uma teoria científica alternativa à teoria da evolução. Ao mesmo tempo, há que assinalar que o evolucionismo, entendido como ideologia materialista e atéia, não é científico.
--O que diz o Magistério da Igreja a respeito?
--Padre Pascual: O Magistério da Igreja, em si, não se opõe à evolução como teoria científica. Por uma parte, deixa e pede aos cientistas que façam investigações no que constitui seu âmbito específico. Mas, por outra, ante as ideologias que estão detrás de algumas versões do evolucionismo, deixa claros alguns pontos fundamentais que devem ser respeitados:
- não se pode excluir, «a priori», a causalidade divina. A ciência não pode nem afirmá-la, nem negá-la.
- o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deste fato deriva sua dignidade e seu destino eterno.
- há uma descontinuidade entre o ser humano e outros seres vivos, em virtude de sua alma espiritual, que não pode ser gerada por simples reprodução natural, mas que é criada imediatamente por Deus.
--Quais são as verdades fundamentais sobre a origem do mundo e o ser humano que a Igreja indica como pontos básicos?
--Padre Pascual: Está claro que o Magistério não entra em questões propriamente científicas, que deixa à pesquisa dos especialistas, mas sente o dever de intervir para explicar as conseqüências de tipo ético e religioso que tais questões comportam.
O primeiro princípio que se sublinha é que a verdade não pode contradizer a verdade, ou seja, não pode haver um verdadeiro contraste ou conflito entre uma verdade de fé (ou revelada), e uma verdade de razão (ou seja, natural), porque as duas têm como origem a Deus.
Em segundo lugar, sublinha-se que a Bíblia não tem uma finalidade científica, mas sim religiosa, pelo que não seria correto tirar conseqüências que possam implicar a ciência, nem a respeito da doutrina da origem do universo, nem enquanto a origem biológica do homem. Há que fazer, portanto, uma correta exegese dos textos bíblicos, como indica claramente a Pontifícia Comissão Bíblica em «A interpretação da Bíblia na Igreja» (1993).
Em terceiro lugar, para a Igreja não há, em princípio, incompatibilidade entre a verdade da criação e a teoria científica da evolução. Deus poderia ter criado um mundo em evolução, o que em si não tira a causalidade divina, ao contrário pode enfocá-la melhor quanto a sua riqueza e virtualidade.
Em quarto lugar, sobre a questão da origem do ser humano, poder-se-ia admitir um processo evolutivo com respeito a sua corporeidade, mas, no caso da alma, pelo fato de ser espiritual, requer-se uma ação criadora direta por parte de Deus, já que o que é espiritual não pode ser originado por algo que não é espiritual. Entre matéria e espírito, há descontinuidade. O espírito não pode fluir ou emergir da matéria, como afirmou algum pensador. Portanto, no homem, há descontinuidade com respeito aos outros seres vivos, um «salto ontológico».
Por último, e aqui nos encontramos ante o ponto central: o fato de ser criado e querido imediatamente por Deus é o único que pode justificar, em última instância, a dignidade do ser humano. Com efeito, o homem não é o resultado da simples casualidade ou de uma fatalidade cega, mas é o fruto de um desígnio divino. O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, mais ainda, está chamado a uma relação de comunhão com Deus. Seu destino é eterno, e por isso não está simplesmente sujeito às leis deste mundo que passa. O ser humano é a única criatura que Deus quis para si mesmo, é fim em si, e não pode ser tratado como meio para alcançar nenhum outro fim, ou muito nobre que possa ser ou parecer.
--É necessário, portanto, uma antropologia adequada que tenha em conta tudo isto e que dê razão do ser humano em sua integridade.
--Padre Pascual: Sobre o tipo de relação que a Igreja promove com o mundo da ciência, João Paulo II disse: «A colaboração entre religião e ciência converte-se em ganância uma para a outra, sem violar de nenhum modo as respectivas autonomias».
--Qual é o pensamento de Bento XVI sobre criação e evolução?
--Padre Pascual: É evidente que não nos encontramos ante uma alternativa tal como «criação ou evolução», mas ante uma articulação. Em uma série de homilias sobre os primeiros capítulos do Gênesis, o então arcebispo de Munique, o cardeal Joseph Ratzinger, escreveu em 1981: «A fórmula exata é criação e evolução, porque as duas coisas respondem a duas questões diversas. O relato do pó da terra e do alento de Deus não nos narra em efeito como se originou o homem. Diz-nos o que é o homem. Fala-nos de sua origem mais íntima, ilustra o projeto que está detrás dele. Vice-versa, a teoria da evolução tenta definir e descrever processos biológicos. Não consegue ao contrário explicar a origem do “projeto” homem, explicar sua proveniência interior e sua essência. Encontramo-nos portanto ante duas questões que se complementam, não se excluem».
Ratzinger fala do caráter racional da fé na criação, que continua sendo, ainda hoje, a melhor e mais plausível das hipóteses.
Com efeito, continua dizendo o texto e Ratzinger, «mediante a razão da criação, Deus mesmo nos olha. A física, a biologia, as ciências naturais em geral nos proporcionaram um relato novo da criação, inaudito, com imagens grandiosas e novas, que nos permite reconhecer o rosto do Criador e nos faze saber de novo: sim, no princípio e no fundo de todo o ser está o Espírito Criador. O mundo não é o produto da escuridão e do absurdo. Provém de uma inteligência, de uma liberdade, de uma beleza que é amor. Reconhecer isto nos infunde o valor que nos permite viver, que nos faz capazes de enfrentar confiantes a aventura da vida».
É significativo que, em sua homilia de início de seu ministério petrino, o papa Bento XVI tenha dito: «Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é necessário» (24 de abril de 2005).
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